Num auditório com espaço para 750 pessoas quase lotado, foi apresentada na noite desta terça-feira (26) a proposta de revisão do plano diretor de Torres, no Litoral Norte. Durante cerca de três horas, foram detalhadas e debatidas as sugestões de mudanças.
A principal polêmica está no aumento do tamanho dos prédios na Praia Grande, chamada no documento de Zona 8, dos atuais 9 metros (três andares) para 15 metros (cinco andares), sem contar o espaço destinado para a caixa d’água. Na plateia, algumas pessoas portavam cartazes com a frase “Eu 💙 Torres”, numa crítica ao projeto. O plano diretor de Torres é de 1995.
— Nós não estamos em lados apostos, nós estamos no mesmo lado. O contraditório deve ser sempre discutido, respeitado — disse o prefeito Carlos Souza na abertura da audiência pública que ocorreu no Centro de Eventos da Ulbra.
Uma simulação de sol durante o verão foi apresentada pela prefeitura num telão, indicando que a sombra dos prédios já com os 15 metros na Praia Grande só começaria a atingir o calçadão e a faixa de areia às 18h, ocupando toda a área às 19h. Quando essa imagem foi exibida, o público vaiou e muitos gritaram que não acreditavam no estudo.
Ao final da apresentação, houve uma divisão do público entre aplausos e vaias. Logo depois, cada pessoa inscrita previamente pôde se manifestar pelo prazo de três minutos aos integrantes da mesa, composta pelo prefeito, pelo presidente do Conselho do Plano Diretor, entre outros representantes.
— Não seremos uma Camboriú e nem uma Capão da Canoa. A mudança no plano diretor é necessária — disse um dos empresários que se manifestou, numa referência aos prédios altos nas praias citadas.
— A gente não quer ver episódios como o de Petrópolis neste ano (deslizamentos que mataram mais de 232 pessoas em fevereiro). Por isso, a preocupação com essa mudança no plano diretor. A gente não precisa de torres de concreto. A gente quer desenvolvimento sustentável — disse uma das ambientalistas contrárias à revisão que usou a palavra.
O presidente do Conselho do Plano Diretor, Cassiano Machado da Silva, classificou a proposta como ponderada para a Praia Grande.
— A proposta tem a intenção de que a orla ganhe vida. O Conselho pegou essa proposta dos 18 metros (de altura dos prédios), pegou os estudos e chegou à conclusão que os 15 metros era um denominador comum entre o que acarretaria em u pouco mais de sombreamento e o custo-benefício que isso traria para a orla — destacou Silva.
A secretária municipal do Meio Ambiente e Urbanismo, Fernanda Brocca de Matos, destaca a importância da mudança do plano diretor.
— O nosso plano diretor é de 1995. Então todos esses anos os padrões urbanísticos da cidade e também das atividades distribuídas no município mudaram. E por força de lei o plano tem que ser revisado a cada dez anos — pondera Fernanda.
Critico à mudança, o coordenador do Projeto Praia Limpa Torres, Alexis Sanson, admite, no entanto, que a ideia inicial que se comentava era pior do que a apresentada por último. Mas faz um alerta.
— No início do processo todo do plano diretor se comentava muito nas Torres de concreto. A especulação imobiliária fluía no sentido de a gente ter uma nova Camboriú no nosso litoral gaúcho. E hoje a gente já vê que não há mais esse movimento. Mas ao mesmo tempo a gente vê com muita preocupação esse movimento no sentido de ser aberto um precedente de mexer em alturas de prédios — sustenta Sanson.
O presidente do Fórum Empresarial de Torres, Eraclides Maggi, elogiou a proposta apresentada.
— Eu acho um plano diretor bem equilibrado, bem tranquilo. Nós, empresários torrenses, entendemos que Torres deve manter, sim, esse ambiente agradável. Nós nunca viraremos uma Camboriú da vida — avalia Maggi.
Terminada a audiência pública, a próxima etapa será reunir o que foi discutido, fazer eventuais alterações e enviar o projeto para a Câmara de Vereadores para apreciação e votação. Ainda não há prazo para que isso ocorra, já que a matéria ainda será encaminhada para o Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS) e Ministério Público Federal (MPF).