Jeferson Ricardo da Silveira, 31 anos, segue hospitalizado após o incêndio que deixou ao menos 11 mortos no Centro de Tratamento e Apoio a Dependentes Químicos de Carazinho (Cetrat). Inicialmente levado ao Hospital de Caridade do município — onde foi entubado —, ele precisou ser transferido para a ala de queimados do Hospital Cristo Redentor, em Porto Alegre.
Na manhã deste sábado (25), o paciente seguia na UTI, em estado grave, de acordo com o Grupo Hospitalar Conceição (GHC), gestor da unidade. O homem respira com ajuda de aparelhos e não passou por cirurgia.
O segundo ferido ganhou alta às 10h deste sábado: Luiz Natanael da Silva Souza ficou em observação no Hospital de Caridade, onde recebeu a visita do Secretário de Cuidados e Prevenção às Drogas do Ministério da Cidadania, Quirino Cordeiro Júnior. O servidor federal foi enviado ao Rio Grande do Sul a pedido do presidente Jair Bolsonaro.
— Viemos prestar condolências às famílias e oferecer apoio ao município — afirma Cordeiro Júnior.
Mais cedo, o secretário se reuniu com o prefeito de Carazinho, Milton Schmitz. Após visitar o sobrevivente no hospital, o representante do Ministério seguiu a Não-Me-Toque para acompanhar o sepultamento de Gilberto Soares dos Santos, 44 anos. Ele é a único das vítimas carbonizadas que teve confirmação da identidade pelo Instituto-Geral de Perícias. Segundo a diretora de assistência social de Carazinho, Aline Zirbes, a família apresentou radiografias do homem e, através da comparação com o cadáver, foi possível emitir o atestado.
Já o monitor da clínica, Deive da Silva, 47 anos, será enterrado em Santa Cruz do Sul. O funcionário da comunidade terapêutica teve queimaduras graves e chegou a ser encaminhado ao hospital. No entanto, morreu ao chegar no local. Ele foi identificado pela direção do centro de recuperação.
Nove estão mantidos em gavetas funerárias
Carbonizados, os restos mortais dos outros nove corpos tiveram material genético coletado pelo Instituto-Geral de Pericias (IGP), a fim de definir o DNA de cada uma das vítimas. Somente após a conclusão dessa etapa, que deve levar até um mês, os parentes poderão realizar os atos fúnebres.
Sem histórico de uma tragédia desta magnitude, Carazinho não tem estrutura para manter os corpos, afirma a diretora Aline Zirbes:
— Precisamos enviar três corpos ao IML de Passo Fundo e outros dois para Soledade. Agora retornaram e estão no cemitério aqui da cidade.
A prefeitura comprou caixões para acomodar os corpos. Cada esquife foi identificada com uma etiqueta numerada, guardadas em gavetas do Cemitério Municipal. A informação gerou revolta em alguns familiares, que acreditaram haver um sepultamento “a revelia”.
— Não temos câmera fria para tantos corpos. Foi publicado um vídeo dizendo que a gente tava enterrando eles, mas é só provisório, até chegarem os laudos do IGP — esclarece a chefe da assistência social.
Fumaça ainda pode ser vista nos escombros
As chamas começaram a ser combatidas no pavilhão de dormitórios às 23h de quinta-feira (23),trabalho dos Bombeiros que foi até a meia-noite e meia, segundo o comandante da corporação, sargento Castro.
Mais de um dia e meio depois de debelado, o incêndio ainda produz fumaça nas madeiras que viraram brasa. O prédio segue isolado com fitas, para evitar acesso de curiosos.
O zelador José Roberto da Silva, 45 anos, é vizinho ao Cetrat. Ele afirma ter acordado à noite por causa do clarão gerado pelas chamas. Na cerca do seu terreno, se deparou com um dos sobreviventes, sentado no chão, aparentemente em estado de choque. O homem tinha nos braços mudas de roupas e um par de sapatos.
— "Só consegui salvar isso, deu um incêndio e muita gente morreu" — disse a vítima para José Roberto.
Ele lembra, ainda, ter tido um encontro com o monitor pouco antes do incêndio. Ambos se conheciam há mais de um ano:
— Falei com o Deive pouco antes do incêndio. Brincou comigo se eu ia secar o Grêmio, era um cara legal.
Na rua atrás do centro de tratamento, há uma série de casas pertencentes a recicladores. O catador Joserino Alves Vieira, 59 anos, observava com frequência a movimentação na clínica, e tem o mesmo sentimento da maioria da população da cidade: incredulidade com o ocorrido.
— Uma tragédia. Eles (os internos) tentando se endireitar na vida — lamenta.