Símbolo da cidade e patrimônio histórico deixado por Joaquim Francisco de Assis Brasil, o castelo de Pedras Altas está prestes a ser vendido. As negociações já avançaram e até o final de fevereiro o processo de venda pode estar concluído. Tudo vai depender da liberação do inventário dos bens tombados junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado do Rio Grande do Sul (Iphae).
O nome do novo proprietário e o valor da venda ainda não podem ser divulgados. Conforme a advogada e bisneta de Assis Brasil, Suzana de Assis Brasil Mendes, 53 anos, a intenção do comprador é realizar o sonho de seu bisavô materno e abrir o espaço para visitação. O local hoje é mantido pelos 18 herdeiros da propriedade.
— Estamos fazendo o inventário dos bens tombados. Tirei as fotos de todos os objetos. Tem todo um imbróglio jurídico. Estávamos em busca de um proprietário que possa dar o devido cuidado, com foco socioambiental. O MP (Ministério Público) já foi notificado. Até o final do mês devemos ter uma previsão bem concreta — sublinha a herdeira.
Suzana explica que nos últimos anos foi montado um condomínio familiar, que é um termo jurídico utilizado para designar um imóvel com vários proprietários em que cada um ajuda com um valor. Esta foi a forma que a família encontrou de manter o local.
Durante 12 anos, a prima de Suzana, Lydia de Assis Brasil morou no castelo. Até 2017, era ela quem dedicava-se a preservar o acervo de relíquias alocadas na propriedade como os 22 volumes da enciclopédia de Diderot e D’Alambert, de 1751.
Hoje, a manutenção é dividida entre um caseiro e uma faxineira. Suzana conta que a pandemia dificultou ainda mais os cuidados com o local, que fica em uma região bastante afastada, a mais de 400 quilômetros de Porto Alegre, onde ela reside. Ela pontua que devido a vazamentos no telhado, a família fez um esforço para cumprir um TAC (Termo de Ajuste de Conduta) que exigia o reparo. Uma das alternativas encontradas para quitar as dívidas foi o arrendamento da terra para o plantio de soja.
Nos últimos anos, o local, que é de propriedade privada, vinha sofrendo com o abandono, se tornando alvo de arrombamentos, invasões e furtos. A deterioração da estrutura já foi alvo de inquérito no Ministério Público. Em agosto do ano passado, uma comitiva do TRE visitou o castelo com o objetivo discutir meios para auxiliar na preservação da memória de Assis Brasil.
Tentativas de venda
As discussões sobre a venda do espaço tomaram corpo nos últimos anos, mesmo sem ser unanimidade entre a família. Em 2015, o castelo foi alvo de negociações na casa dos R$ 8 milhões com uma ONG de Moçambique. À época, especulava-se que o local vinha sendo negociado com personalidades como jogadores de futebol e um diretor de TV, mas a venda nunca foi efetivada.
O local foi inaugurado em 24 de junho de 1912 no município de Pedras Altas, na região sul do Estado. O castelo foi palco da assinatura do tratado histórico que pôs fim à Revolução de 1923, entre ximangos e maragatos.
A fortaleza construída em granito rosado conta com 44 cômodos erguidos em uma área de 300 hectares. O castelo serviu de moradia para o político, advogado e escritor que também dá nome ao Parque de Exposições da Expointer, em Esteio, na Região Metropolitana. Assis Brasil viveu no local até a sua morte, em 1938.