Um levantamento feito pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) mostra que ao menos 1.671 trabalhadores foram resgatados de situações análoga à escravidão em 2021. Segundo o próprio órgão, o número de total de resgates pode ser ainda maior, se forem considerados dados estatísticos a serem divulgados pelos demais órgãos públicos. As denúncias de trabalho em condições semelhantes à escravidão no Brasil aumentaram 70% no ano passado em comparação a 2020. Foram registradas mais de 1,4 mil denúncias.
Dentre as operações realizadas, os órgãos fiscalizaram diferentes setores da economia, como a extração da carnaúba, plantações de café e cana-de-açúcar, garimpos, carvoarias e pedreiras, construção civil e oficinas de costura.
Em apenas uma das operações, realizada em outubro, 116 pessoas foram resgatadas pelo grupo móvel nacional. Elas trabalhavam na colheita de palha para cigarros da empresa Souza Paiol, em uma fazenda em Água Fria de Goiás (GO), a 140 quilômetros de Brasília.
Uma das modalidades de trabalho escravo mais identificadas pelo MPT em áreas urbanas foi o trabalho escravo doméstico, tendo as mulheres negras como principais vítimas. O órgão ainda aponta um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) de 2019, que mostra que mais de 6 milhões de brasileiros e brasileiras dedicam-se a serviços domésticos. Desse total, 92% são mulheres – em sua maioria negras, de baixa escolaridade e oriundas de famílias de baixa renda.
Na avaliação do MPT, o aumento das denúncias de trabalho escravo no setor acontece graças ao empoderamento da categoria das empregadas domésticas ao longo da última década, dentre outros fatores.
Também foi anunciado um acordo com municípios para promover cursos para a rede de assistência às vítimas. O projeto é voltado a profissionais da rede municipal de assistência social e outros profissionais que atendem vítimas de trabalho escravo e tráfico de pessoas, como técnicos e servidores da saúde, direitos humanos e segurança pública. No Rio Grande do Sul, as prefeituras de Porto Alegre, Caxias do Sul, Novo Hamburgo, Passo Fundo, Pelotas, Vacaria e Venâncio Aires firmaram o acordo.
Em março do ano passado, no Rio Grande do Sul, 34 pessoas foram resgatadas de trabalhos análogos à escravidão no Norte e no Vale do Rio Pardo. As vítimas trabalhavam na produção de carvão, cultivando fumo e extraindo eucaliptos.
Para realizar a denúncia em suspeitas de casos de trabalho escravo, o Governo Federal disponibiliza uma ferramenta anônima através do Sistema Ipê. Outra alternativa é ligar para o Disque 100, o canal de denúncia de violação de direitos humanos.