Último sobrevivente a prestar depoimento no júri da Kiss nesta quinta-feira (2), o DJ Lucas Cauduro Peranzoni, que estava na boate a trabalho na madrugada de 27 de janeiro de 2013, afirmou que foi contratado para prestar serviços pelos dois sócios da empresa, os réus Elissandro Callegaro Spohr e Mauro Londero Hoffmann.
— Quem me contratou foi o Kiko e o Mauro. Tratei com ambos — afirmou Peranzoni.
Embora tenha citado a discussão profissional com Hoffmann, a vítima disse que “nunca viu” ele durante festas na boate.
A defesa de Hoffmann sustenta que ele era apenas investidor, e que não tomava decisões no cotidiano e na gestão da Kiss.
Peranzoni disse não ter ouvido nenhuma voz ao microfone avisar que um incêndio estava em curso. Emocionado, conta ter desmaiado e ter sido pisoteado. Ele relatou ter percebido o incêndio e disse que um colega de trabalho da boate veio ao seu encontro pedir um extintor que deveria estar no lugar. Antes que pudessem tentar localizar o equipamento, ele descreveu o que viu:
— Uma nuvem preta muito densa. Eu olhei para ele (colega) e disse: "Vamos sair daqui". Não tinha mais ninguém na pista nesse momento. Saímos por trás. Tinha uma área VIP atrás de mim. (...) Essa nuvem foi muito rápida.
Questionado pelo juiz Orlando Faccini Neto, presidente do júri, Peranzoni afirmou não ter ficado com sequelas físicas. Mas, indagado sobre traumas psicológicos, se emocionou e teve dificuldade para se manifestar.
— Não precisa responder. O silêncio também fala — ponderou o magistrado.
O sobrevivente afirmou que acredita ter conseguido sair da Kiss “porque conhecia” a casa noturna.
— Tinha placas de sinalização, mas ficou muito escuro — declarou.
Respondendo ao advogado Jader Marques, da defesa de Spohr, Peranzoni disse que a relação do empresário com os funcionários era “muito boa”.
— Era um local muito bom — afirmou o sobrevivente sobre a experiência profissional e o ambiente da boate.
O advogado Bruno Seligman de Menezes, da defesa de Hoffmann, trouxe para a discussão o depoimento de Peranzoni à Polícia Civil à época do inquérito. Conforme a manifestação do defensor do réu, o sobrevivente havia dito naquele momento que somente Spohr o havia contratado para trabalhar como freelancer no som da Kiss, sem citação ao nome de Hoffmann. A defesa de Hoffmann apresentou à reportagem o termo do depoimento de Peranzoni à Polícia Civil em que apontou apenas Spohr como contratante.
— Não lembro desse depoimento. O que lembro é de ter sido contratado pelos dois (Spohr e Hoffmann) — respondeu o DJ nesta quinta-feira, no júri.
Ele também descreveu que, caso fosse necessário resolver um problema relacionado às festas, Spohr era a referência. Confirmou que, aos seus olhos, a figura do “patrão” era incorporada por Spohr.