O último depoimento deste domingo (5) no julgamento do caso da boate Kiss foi de Doralina Machado Peres, segurança e uma das sobreviventes da noite de 27 de janeiro de 2013. Ela ficou 26 dias hospitalizada, teve sequelas pulmonares e precisou colocar enxerto de pele em razão das queimaduras.
Doralina é uma depoente arrolada pela defesa de Elissandro Sphor, sócio da boate e um dos réus do caso. Ela disse que se dava bem com ele, que ele sempre foi muito educado com os funcionários da boate. Mas as ordens aos seguranças, segundo Doralina, eram repassadas pelo chefe direto do setor.
Doralina Peres diz que nunca teve curso de prevenção contra incêndio. Diz que não sabia manusear extintores. Mas que colegas explicaram como teria que usar.
A sobrevivente disse que havia luzes de emergência na boate Kiss. Afirmou não saber quantos extintores tinham na boate e nem se havia câmeras de vigilância. A promotora Lúcia Callegari mostrou imagem do bar com vários baldes de espumante com um tipo de fogos de artifício e perguntou se vítima já tinha visto aquilo. Ela disse que, daquela forma, não. Também afirmou que nunca viu o uso de artefatos pirotécnicos em shows na Kiss.
Na noite em que ocorreu o incêndio, a então segurança começou trabalhando na entrada da casa noturna, mas, na hora do começo das chamas, havia trocado de posição.
— Eu estava na parte de cima, recolhendo garrafas — relatou.
Ela disse não lembra muitos detalhes do momento, não sabe se era possível enxergar a sinalização de emergência nem se alguém alertou do fogo no microfone. Doralina disse ter desmaiado durante o incêndio e que foi retirada da casa noturna por um colega. Afirmou que a casa noturna não estava cheia, mas que "tinha bastante gente".
A defesa de Spohr questionou se o réu, sócio da casa, dava ordem para trancar as pessoas para não saírem, e ela respondeu que, quando os clientes não tinham como pagar, ele ficava com a identidade do cliente, para a pessoa retornar e fazer o pagamento, ou ligava para a família da pessoa.
O advogado Jader Marques ainda perguntou se ela participou de reuniões com os outros seguranças sobre como agir em caso de incêndio. Ela disse não se lembrar de um encontro com esse propósito, mas contou que, com frequência, recebiam orientações sobre como lidar com brigas.
Com relação ao outro sócio da Kiss, Mauro Hoffmann, a depoente disse que o via às vezes na boate, mas não o conhecia "nem de boa noite".
O júri do caso Kiss já é o mais longo a história do judiciário do Rio Grande do Sul. Até então, era o do caso Bernardo, que durou cinco dias.
Os depoimentos acertados para esta segunda-feira (6) são todas testemunhas da defesa de Elissandro Spohr: o ex-funcionário Stenio Rodrigues Fernandes, o sobrinho e sobrevivente do incêndio Willian Machado e a esposa de Elissandro, Nathália Daronch, também sobrevivente. O sexto dia de julgamento começa às 9h.