No quinto dia de julgamento do caso da boate Kiss, o depoimento do engenheiro Tiago Mutti, ex-proprietário da casa noturna, terminou pouco antes das 16h30min. Indicado pela defesa do sócio Mauro Hoffmann, ele também é questionado pelo advogado Jader Marques, que defende o outro sócio do estabelecimento, Elissandro Spohr, conhecido como Kiko.
Mutti disse que a porta da danceteria era suficiente para o tamanho do prédio e capacidade de ocupação, para pouco mais de 600 pessoas.
O depoimento, o primeiro do dia, ocorre no plenário do Foro Central de Porto Alegre neste domingo (5). Mutti disse ainda que a casa noturna passou por adequações estruturais, conforme Plano de Prevenção contra Incêndios (PPCI) encomendado à época em que ele auxiliava na reforma da casa noturna, em 2009.
— A porta comportava a passagem das pessoas, conforme a área (da boate). A única porta está dentro da lei pela área — disse.
Além disso, o sistema de ventilação da Kiss era de ar forçado, considerado moderno para casas noturnas. O engenheiro também foi questionado sobre superlotação e teto de ocupação. Jader Marques utilizou a simulação em 3D da planta da boate para tentar demonstrar que a danceteria não estaria superlotada no dia da tragédia. A projeção de pouco mais de 600 pessoas foi demonstrada em tela perante os jurados.
Em 2009, os proprietários do estabelecimento eram Elton Cristiano Uroda, Alexandre Costa e Cíntia Mutti, irmã do engenheiro. O depoente ainda disse que a parte de Cíntia foi oferecida à irmã de Mauro Hoffmann, o que foi rejeitado por conta de dívidas do empreendimento. Segundo Mutti, houve uma série de festas que deram prejuízo aos sócios.
No começo do ano seguinte, Elissandro Spohr comprou a parte da família dele no negócio, oferecendo um carro e mais R$ 10 mil.
O desligamento dele, de seu pai e irmã com a sociedade da boate foi encerrado ao final de 2009, segundo Mutti. Ao início do depoimento, o engenheiro passou de testemunha à condição de informante por conta de dois processos que respondeu por fraude e falsidade ideológica.
O julgamento
O Tribunal do Júri começou na última quarta-feira (1º) e deverá durar pelo menos duas semanas. Até o momento, treze pessoas foram ouvidas, sendo seis sobreviventes. Tiago Mutti é o 14º depoente.
As testemunhas respondem a perguntas do Ministério Público, órgão de acusação, e dos advogados de defesa dos réus Elissandro Callegaro Spohr e Mauro Londero Hoffmann, sócios da Kiss, e Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Bonilha Leão, da banda Gurizada Fandangueira.
Os quatro são julgados pela morte de 242 pessoas e pela tentativa de homicídio de outras 636 que ficaram feridas no incêndio ocorrido em Santa Maria em 27 de janeiro de 2013.