O 10º dia de julgamento dos quatro acusados pelas 242 mortes no incêndio da boate Kiss começou com o pronunciamento de um dos mais celebrados criminalistas gaúchos, Amadeu de Almeida Weinmann. Fugindo ao habitual, o veterano advogado – com 57 anos de atuação em júris – atuou como assistente na acusação contra os réus e não na defesa deles.
Weinmann foi duro, nos poucos minutos que lhe reservaram para se pronunciar. Ao comentar sobre eventuais falhas de fiscalização na Kiss, considerou que "todas instituições têm gente boa e gente meio transviada". Mas enfatizou que a culpa pelo incêndio é dos quatro réus, não do poder público.
Ele disse que só se tem notícia de um extintor de incêndio que tentaram acionar — e que estava descarregado.
— Isso é que traz o dolo dos réus. É obrigação do empresário manter esse equipamento apto, na boate. Se tivessem quatro, cinco, seis extintores em condições, a situação seria outra. A consequência foi 242 atestados de óbito — exclamou Weinmann.
O assistente de acusação ressaltou que a boate não tinha segurança.
— Peço aos senhores jurados que pensem na hora de votar. Não venham dizer que o Ministério Público não fiscalizou. Era obrigação dos empresários evitar um incêndio. Teria de ser sinalizada a saída, como nos cinemas. Sobre habitabilidade: no dia, entre mortos e socorridos pelos hospitais, são mais de 800 pessoas na boate. Mas tinha muito mais gente lá — ponderou.
Weinmann admite que as entidades estatais possam ter falhado em algum ponto, mas apelou: “os senhores não podem falhar no veredito”, se dirigindo aos jurados.
— A condenação não é o que eu peço, é o que a humanidade exige — finalizou Weinmann, saudado pelos integrantes do Ministério Público.