Guerra e Paz é o nome da operação desencadeada pela Polícia Federal nesta quinta-feira (1º) em uma área caingangue em Água Santa, no norte do Rio Grande do Sul. O nome da ação se justifica: desde o ano passado, mais de cem incidentes foram registrados entre indígenas da Reserva do Carreteiro, situada no pequeno município. Entre os casos, há pelo menos dois índios que foram mortos a tiros, dezenas de feridos e pelo menos três residências incendiadas.
Para estancar a discórdia que se abate sobre os caingangues pelo segundo ano seguido, 350 policiais federais, militares, civis, agentes penitenciários e integrantes do Corpo de Bombeiros participam da ofensiva. Eles cumprem 28 mandados de prisão preventiva e 49 de busca e apreensão nos municípios de Água Santa, Tapejara, Ibiaçá, Santa Cecília do Sul, Getúlio Vargas, Erebango e Passo Fundo.
É a segunda ação forte da PF na região em menos de um ano. Em setembro de 2020 foi desencadeada a Operação Carreteiro, que prendeu 21 pessoas e realizou buscas em 30 residências — a investigação resultou no indiciamento de 31 indígenas pelos crimes de constituição de milícia privada e de constrangimento ilegal.
No final do ano passado, os indígenas que haviam sido presos na primeira operação da PF obtiveram a liberdade e passaram a rearticular forças para tentar retomar o poder.
No início de 2021, os conflitos se intensificaram, com inúmeras tentativas de homicídio em confrontos entre os grupos rivais, culminando na morte de um indígena no dia 31 de janeiro, por disparo de arma de fogo. Posteriormente, outro indígena foi morto em confronto com a Brigada Militar.
Dois grupos estão em disputa na Reserva do Carreteiro. Um deles é liderado pelo cacique Getúlio Daniel, que teve a eleição contestada e foi, inclusive, baleado. O outro grupo, que deixou a reserva, tem entre as lideranças José Levino Daniel, parente de Getúlio.
GZH apurou que um dos mandados de prisão é para o cacique Getúlio Daniel. As investigações indicam que a briga maior é por um motivo financeiro: o controlador das áreas também arrenda as terras para agricultores, que precisam pagar para plantar.
O superintendente regional da Polícia Federal no Rio Grande do Sul, delegado Aldronei Pacheco Rodrigues, está em Passo Fundo para acompanhar a operação, que é chefiada pelo delegado Sandro Bernardi.
— A situação dos arrendamentos, pelo que entendemos, deveria ser resolvida no âmbito cível, com mediação dos órgãos competentes, administração da questão das áreas de soja e do fluxo financeiro decorrente disso. A fim de que não se chegasse à condição atual que a regra é o cometimento de crimes, o que atrai a atuação da PF. Só realizamos prisões e buscas para fazer cessar a violência e trazer de volta a tranquilidade e paz para a comunidade indígena e para os moradores do município de Água Santa — resume Aldronei.
São investigados os crimes de homicídio, constituição de milícia privada, lesões corporais, ameaças, vias de fato e incêndio criminoso.