Produtor em Linha Harmonia da Costa, localidade da zona rural de Venâncio Aires, Luís Carlos Schwendler tem repetido uma anedota que se popularizou na mais recente estiagem que castiga a região.
— Um cara estava lavrando com uma junta de animais, veio a chuva e molhou só um boi. Os outros, não. A chuva está muito desparelha — conta o homem de 52 anos.
A irregularidade da chuva, que pouco tem caído e, quando cai, é desuniforme, tem tornado levantamentos das perdas da estiagem uma tarefa mais árida do que em secas passadas. No Vale do Rio Pardo, o panorama preciso é ainda mais árduo para as autoridades porque a quebra na safra atinge sobretudo produtores de pequenas propriedades, entre cinco e 10 hectares.
— O pequeno produtor tem baixa margem de lucro e pouca infraestrutura para absorver a queda na produção. Por isso, sente o prejuízo e leva um período maior para se recuperar — diz o prefeito de Venâncio Aires, Giovane Wickert.
Schwendler produz milho, fumo, leite e suínos em 8,8 hectares de terra. Sem chuva substancial desde novembro, o agricultor prevê perda total no milharal com aspecto de ferrugem, raras folhas verdes e miúdas carreiras de grãos assimétricas. Usado para silagem, o milho está sendo substituído por ração, e o gado tem perdido peso. O leite produzido pelas 15 vacas caiu de 400 para 230 litros a cada dois dias.
Na propriedade ao lado, Ângelo Reis, 35 anos, teve de incluir na rotina campeira o carregamento de duas cargas diárias de água para matar a sede de seu gado leiteiro. As 55 cabeças consomem 3 mil litros por dia, e o poço artesiano da propriedade se tornou insuficiente para o uso animal. As ordenhas têm sido minguadas, despencando de 750 para 500 litros, e quatro hectares de milho foram perdidos.
— Nunca tinha presenciado uma estiagem assim, de ver a plantação secando na lavoura e não poder fazer nada — afirma Ângelo.
Venâncio Aires calcula prejuízo de R$ 41 milhões pela estiagem, com perdas maiores nas lavouras de fumo e de milho. A prefeitura, que anunciou situação de emergência na semana passada, tem abastecido a zona rural com dois caminhões-pipa para atenuar o impacto da ausência de chuva.
Na vizinha Santa Cruz do Sul, que também assinou o decreto, as perdas são ainda mais significativas — R$ 62 milhões na agricultura e na pecuária, segundo estimativa da prefeitura. O principal prejuízo está no tabaco, calculado em R$ 33,6 milhões.
— Mesmo em áreas irrigadas, o tabaco perde qualidade, porque a estiagem, aliada às altas temperaturas, causa danos às folhas — resume o coordenador da Defesa Civil de Santa Cruz do Sul, José Joaquim Barbosa.
No cultivo de fumo de Cristiano Staub, em Cerro Alegre Baixo, na área rural de Santa Cruz do Sul, parte das folhas queimou pela incidência de sol e escassez de chuva. Para o produtor de 41 anos, a perda é estimada em 33 mil pés dos 112 mil plantados. Contudo, ele também prevê prejuízo naquilo que for colhido. Pelas plantas judiadas, a indústria costuma rebaixar a classe do tabaco, reduzindo o pagamento em até um terço.
— Já aprendi que, no campo, é assim. Fazendo os teus 50%, os outros 50% se entrega na mão de Deus. E espera que ele colabore lá de cima — diz Staub.