Correção: Sandro Marcos da Silva tinha 49 e não 39 anos, como publicado entre as 17h55min do dia 8 de janeiro e as 10h do dia 9 de janeiro de 2020. O texto já foi corrigido.
Paraquedista há três décadas, Sandro Marcos da Silva bateu no telhado de uma casa durante o percurso de tirolesa que o matou no fim da tarde de terça-feira (7), em Iraí, município de 7,2 mil habitantes no norte do Estado. O homem de 49 anos havia sido contratado para instalar o equipamento que, anunciado como o terceiro maior do país, seria inaugurado no próximo sábado (11) a preços populares para atrair turistas à cidade.
Depois de resgatar o corpo de Sandro da cobertura da residência, localizada na Avenida Castelo Branco, no centro de Iraí, a Polícia Civil abriu inquérito para apurar as causas do acidente. Na cidade, comenta-se que o instrutor sofreu um infarto. O delegado responsável pela investigação, Ercílio Carletti, pretende esclarecer por que o homem colidiu contra a construção.
— Ele bateu na casa porque o cabo distensionou. Mesmo que ele tenha tido um infarto, ele não poderia ter colidido contra o telhado. Isso tem de ser averiguado — afirma Carletti.
O delegado aguarda o resultado de perícia do Departamento Médico-Legal que irá sentenciar o motivo da morte. Ele também pediu uma vistoria na tirolesa, suspeitando que o calor superior a 30ºC possa ter distendido o cabo de sustentação.
Fundador da empresa Projeto Aventura, especializada na montagem de tirolesas, circuitos de arvorismo e paredes de escalada, Sandro havia chegado a Iraí na tarde de terça-feira, acompanhado das duas filhas adolescentes. O paraquedista, morador de Balneário Camboriú (SC), morreu durante um teste no equipamento. Nesta quarta-feira (8), ele daria início ao treinamento dos operadores da atração para liberá-la para uso no sábado (11).
De 1.680 metros de extensão, a tirolesa parte de uma altura de 190 metros, em um morro onde ficam as antenas telefônicas de Iraí, e se encerra na Avenida Flores da Cunha, próximo ao ginásio de esportes. Sandro foi chamado para erguê-la pelo experiente currículo na área. Trabalhou na instalação de tirolesas como a "mega" de Pedra Bela (SC) e do reality show A Fazenda, da Rede Record, além de fazer estudos para a colocação da atração no Vale Sagrado dos Incas, no Peru.
Militar na década de 1980, Sandro também dava cursos de resgate nas alturas e em locais de difícil acesso para policiais militares e bombeiros catarinenses, paulistas e gaúchos. Segundo o engenheiro Murilo Wehle, seu parceiro de trabalho havia 10 anos, seu zelo o fazia ser conhecido como "o cara chato da segurança".
— Duvido muito que ele tenha pulado algum procedimento, porque tinha muita experiência no ramo. Até agora, não tenho respostas para o que aconteceu. Foi o primeiro incidente dele e também o mais difícil de acreditar — diz Murilo, responsável pelo estudo de viabilidade da tirolesa.
Ao engenheiro, surpreendeu que Sandro tenha se lançado na travessia. Pelo procedimento padrão, primeiramente se coloca um boneco que simule o peso de uma pessoa para testar a travessia sem colocar em risco a vida de alguém.
Dono da Irahy Ecoparque, que contratou a empresa de Sandro e irá operar o equipamento, Fernando de Rossi, relata que o paraquedista estava fazendo testes no cabo de aço, que havia sido tensionado no sábado (4), e sido advertido a evitar a descida. No entanto, ele teria decidido se arriscar porque, se necessário, saltaria de paraquedas.
— Tendo mais de 20 anos de experiência, ele sabia o que estava fazendo — comenta Fernando.
Aguardado com expectativa em Iraí, o empreendimento era a promessa de "emoção e adrenalina" para fomentar o turismo de aventura na cidade. Diante do investimento privado de R$ 500 mil, a prefeitura cedeu um terreno para que a Irahy Ecoparque construísse a área de chegada da travessia. "Neste momento de tristeza e dor, a administração municipal reitera os sentimentos de condolência e de profunda solidariedade à família e aos amigos", escreveu, em nota, a prefeitura.