Sentada no sofá de casa, com o braço esquerdo apoiado na tipoia, a dentista Cristielle Costa, 28 anos, evita movimentos bruscos. Os ferimentos decorrentes de um acidente de trânsito, provocado por um motorista bêbado, em 27 de dezembro, causam dor.
— Quando tenho dor, eu sinto raiva dele. Quando lembro do André (namorado) no hospital, eu tenho raiva dele. Eu estava voltando pra casa após o trabalho e me acontece isso. Farei de tudo para que ele se mantenha preso. Não quero que ele saia para rua, para fazer de novo o que ele fez — afirma a jovem.
Cristielle havia trabalhado até o fim da tarde em Osório, em um consultório odontológico, e retornava de moto com o namorado para casa, no bairro zona nova, em Capão da Canoa. O homem pilotava uma Honda Biz, que foi atingida por um Hyundai Azera. Estudante de enfermagem da UFRGS, André Felipe Cadernal, 24 anos, ficou em coma por nove dias e despertou no último domingo (5). Ele também teve diversas fraturas no corpo, além de contusão nos pulmões, traumatismo craniano grave e sangramento nos tímpanos.
— Ele ainda está um pouco confuso, têm dias que está mais agressivo, outros que está mais calmo. Mas eu vi ele acordado e ele lembrou de mim, o que me deu uma alegria muito grande. Quero que se recupere logo, vá para o quarto e volte para casa comigo — contou a dentista, com um sorriso de esperança.
O acidente foi provocado por Marcelo de Carvalho, na Avenida Rudá, uma das mais movimentadas de Capão. Após o teste do bafômetro apontar 0,77 mg de álcool por litro de ar expelido — mais que o dobro necessário para ser autuado por crime de trânsito —, ele foi preso.
Após colidir na moto do casal, Carvalho tentou fugir e provocou outros dois acidentes. Seu carro colidiu contra outra motocicleta. O piloto foi levado por 800 metros sobre o capô do Hyundai Azera, que só parou após bater em um carro, deixando mais duas pessoas feridas. Na terceira colisão, o carro de Marcelo de Carvalho parou de andar.
Irmão de André, o advogado Nicolas Cadernal, 28 anos, interrompeu as férias em Santa Catarina para voltar ao litoral gaúcho.
— Minha revolta foi quando eu soube que ele tava entubado. Agora é esperar, os médicos disseram que a recuperação neurológica deve levar de seis meses a um ano — informou.
A maleta tava destruída, diz mãe de Cristielle
Além de sofrer pela dor física da filha, Aida Silva da Rosa, de 59 anos, chora ao lembrar da cena presenciada por ela e pelo outro filho.
— Foi um horror. A maleta dela destruída, a moto também, e eles caídos. Os danos materiais a gente recupera, mas ver ela machucada dói muito — lamenta a funcionaria pública, se retirando da sala de estar para evitar que a conversa se prolongue.
A mãe chegou ao local da ocorrência às 21h, poucos minutos após tudo ter acontecido.
— Uma menina pegou o telefone da Kelly e me ligou. Eu achei que era um acidente simples, mas quando cheguei lá tinha tudo aquilo, horrível — relembra.
Amparada por amigos e outros parentes, Kelly — como Cristielle é conhecida —, precisa de ajuda na limpeza das feridas e para se locomover. As escoriações estão expostas nos joelhos, pés, mãos, braços e no rosto. O púbis e o maxilar foram fraturados.
Ela passará ainda por uma cirurgia, já que a clavícula também está quebrada. A jovem teve ainda um traumatismo craniano leve.
Ao despedir-se da reportagem de GaúchaZH, a mãe de Kelly distribuiu abraços carregados de emoção.
— Tudo que ela precisa agora é de carinho — sussurrou.