O apelido de Estrada da Morte, que persegue a BR-386 há décadas, ainda assombra os motoristas. Ao ceifar 57 vidas, foi a rodovia federal que mais matou no Estado em 2018, segundo a Confederação Nacional do Transporte (CNT). De janeiro a outubro deste ano, já foram 59 vidas perdidas somente no trecho concedido à CCR Via Sul, dos quais 44% nos quilômetros de pista simples.
Em Fontoura Xavier, na madrugada de 19 de abril, uma colisão matou seis pessoas, cinco da mesma família. O acidente aconteceu quando um Tempra invadiu a pista contrária e atingiu, de frente, o Corsa ocupado pelos Dalla Vecchia. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) lembra que a estrada favorece esse tipo de colisão, altamente letal.
— A divisão entre as pistas praticamente eliminaria as batidas frontais, por isso é tão necessária. A duplicação é importante, também, porque aumenta o espaço de tráfego, diminui as filas e, consequentemente, reduz as batidas traseiras — diz Felipe Barth, chefe da Comunicação Social da PRF no Rio Grande do Sul.
Enquanto não se inicia a duplicação, a CCR Via Sul tem obrigações contratuais de manutenção e conservação da rodovia, além dos serviços de atendimento aos usuários. Embora a duplicação comece em 2021, a concessionária já trabalha na elaboração dos projetos.
ROBERTO CALIXTO
Presidente da CCR Via Sul
A reboque da duplicação virão viadutos, rótulas, retornos e vias laterais, obras que reduzem a incidência de choques transversais, aqueles em que o veículo é atingido quando atravessa a pista principal. Sem falar, claro, da implantação de passarelas e faixas de pedestres. A inexistência de travessia para pessoas entre Carazinho e Lajeado obriga a comunidade a se arriscar entre os carros.
— Ou seja, a duplicação traz mais segurança para todos — complementa o policial.
Sobre os demais trechos, Barth alerta, principalmente, para o elevado fluxo de veículo e de pessoas, além da inexistência de barreira física entre Tabaí e Canoas.
Mas não é só segurança que a duplicação oferece. Com ela, vem o potencial de crescimento econômico. Conforme o presidente da Federação das Empresas de Logística e Transporte de Cargas do Estado (Fetransul), Afrânio Rogério Kieling, o custo logístico no Rio Grande do Sul chega a 25% do Produto Interno Bruto (PIB), quando não deveria passar de 7%.
– Aqui, para fazer uma operação, gasta-se mais tempo, caixa de marcha, pneu e diferencial (dispositivo de tração). Em, alguns países, o custo logístico é de 8%. A duplicação de estradas melhora a economia de uma região – diz.
O título de Rodovia da Produção, mais um dos epítetos que recebeu, não é em vão. Paulo Menzel, presidente da Câmara Brasileira de Logística e Infraestrutura, assegura que a BR-386 é a única rodovia do Estado que tem interferência econômica em todos os 497 municípios gaúchos.
– Só isso já mostra o tamanho da sua importância e o quanto é necessária sua duplicação para o desenvolvimento do Rio Grande do Sul – afirma.
Para Ricardo Portella, diretor da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), a duplicação vai aumentar a velocidade média dos caminhões, reduzir os acidentes, baratear o custo do transporte e aumentar a competitividade dos produtores.