SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O desafio de garantir o acesso ao SUS (Sistema Único de Saúde) a todos os brasileiros foi um dos temas explorados pelo Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, durante palestra no Conahp (Congresso Nacional de Hospitais Privados), nesta quinta-feira (28), em São Paulo.
"Não dá para fazer tudo em cada município brasileiro. É esse modelo que a gente encontra e começa a partir deste ano a questionar alguns fundamentos. Amparados nos princípios da universalidade, integralidade e equidade, começamos a reestruturação do sistema de saúde brasileiro", afirma.
No entanto, Mandetta alerta que a melhoria do sistema só será possível se houver investimento e reorganização partindo da atenção primária. A ideia é dividir o país em regiões administrativas para criar salas de atendimento especializado. "2020 será o ano da medicina especializada", diz.
Como exemplos de investimentos na atenção primária, Mandetta citou o Programa Médicos pelo Brasil, que tem como objetivo levar profissionais aonde há desassistência; a informatização do SUS, que reunirá informações sobre consultas, medicamentos prescritos e internações; a utilização do CPF no lugar do Cartão Nacional do SUS; e a capacitação dos agentes de saúde para a realização de pequenos procedimentos, como medição de pressão arterial, e para adiantar diagnósticos, por exemplo.
Mandetta fez uma análise histórica do sistema de saúde brasileiro e ressaltou que, ao promulgar a Constituição de 1988, o Brasil fez uma decisão como povo. "Rompemos com quase 500 anos de modelo de sistema de saúde e ali nasceu o maior desafio. Ali dissemos para cada um de nós que vamos dar acesso equânime para todos. Estamos todos no mesmo barco que navega linhas muitas vezes confusas, em que escreveram que nosso sistema deve ser primeiro público, filantrópico e, por último, privado. Isso fez com que o privado se distanciasse", afirmou.
"Em 2025, teremos mais pessoas acima de 60 do que abaixo de 20 e as doenças degenerativas serão as grandes vilãs. Como fazer diagnósticos, onde ter unidades hospitalares, como tratar um país que envelhece?", questiona.
Para o ministro, o sistema não pode fechar os olhos para o desfecho clinico. "Não é mais entendido que as UTIs sejam locais de pessoas de 80, 90 anos. É preciso ter oportunidade de tratamento dentro do que é ético, do bom uso da tecnologia."
O hospital que tiver bom resultado deve ser valorizado. "Não é possível o país tratar todos igual e um médico recém-formado ter sua curva de aprendizado às custas de um sistema. Temos que enfrentar esses e outros desafios. Torturar números não é o melhor caminho para um país que quer ter um sistema de saúde eficiente."