SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A lista de praias no Nordeste atingidas por manchas de óleo cresce diariamente. A última atualização do Ibama, de 11 de outubro, indica que 156 locais foram afetados em 71 municípios.
Ainda não se sabe exatamente qual a origem do petróleo. A análise do óleo, realizada pela Petrobras, Marinha e universidades do Nordeste, indica que o material é de origem venezuelana, o que, na prática, não quer dizer que a Venezuela tenha ligação direta com o vazamento. O presidente Jair Bolsonaro disse, nesta quinta (10), ter 'quase certeza' que derramamento de óleo foi criminoso.
A reportagem ouviu especialistas para responder às principais dúvidas sobre o tema.
1. Quando e onde as manchas de óleo foram vistas pela primeira vez?
As primeiras manchas de óleo reportadas foram vistas na Paraíba em 30 de agosto nas cidades de Conde e Pitimbu, que ficam a cerca de 40 km uma da outra.
As três primeiras praias ondas as manchas foram avistadas são Praia de Gramame e a Praia de Tambaba, ambas em Conde, e Praia Bela, em Pitimbu.
2. Por onde o óleo se espalhou depois?
Quatro dias após o surgimento das manchas na Paraíba, o óleo chegou ao Sergipe e em Pernambuco. No dia 2 de setembro, data que o Ibama aponta como o início da crise, 23 locais em 11 municípios nos três estados já haviam sido afetados. Até aquele momento, apenas um animal --uma tartaruga marinha-- havia sido encontrada morta em decorrência do óleo.
O animal foi achado no Ceará no dia 1º de setembro, estado que, segundo o Ibama, só foi atingido pelas manchas em 7 de setembro.
3. Qual é o estado do Nordeste mais afetado?
Até o momento é o Rio Grande do Norte, onde foram registrados, até o dia 10 de outubro, 43 locais afetados. Veja abaixo.
4. Tenho viagem marcada para o Nordeste. Como saber se a praia que vou visitar foi atingida?
Até o momento, 156 locais, entre praias e rios, foram atingidos pelas manchas de óleo. A recomendação é evitar esses locais. Confira a lista atualizada.
5. As praias com manchas de óleo não devem ser frequentadas?
Não há proibição de uso das praias. A recomendação das autoridades e de especialistas em saúde é de evitar o contato com o material.
6. Quais são os riscos para a saúde do contato com o óleo?
A dermatologista Alessandra Romiti, coordenadora do departamento de cosmiatria da Sociedade
Brasileira de Dermatologia, disse à reportagem que o contato de banhistas e pescadores com o óleo pode causar irritações na pele e alergias.
"Os dois principais riscos para a pele são a reação alérgica, que pode gerar coceira e vermelhidão e a formação de acnes de oclusão, ou seja, acnes geradas pelo excesso de óleo na pele, similar a quando se passa produtos oleosos demais como os protetores solares."
Questionada sobre como remover o óleo em caso de contato, Romiti explica que o mais indicado é lavar repetidamente o local com água e sabão.
"Em primeiro lugar é melhor evitar entrar em contato, mas caso aconteça, lave com detergente e, se não sair, tente utilizar óleos minerais ou vegetais. Se ainda assim não conseguir remover o material, é possível utilizar solventes, mas esses produtos oferecem risco à saúde, pois podem causar irritações fortes na pele porque esses solventes costumam ser usados para limpar superfícies e não a pele", orienta.
7. Quais são os riscos da ingestão de animais (peixes, crustáceos) que tenham tido contato com o óleo?
Especialistas ouvidos pela reportagem disseram que não é possível afirmar com precisão quais os riscos à saúde associados à ingestão de animais que apresentem resquícios do óleo que atinge as praias do nordeste.
O que se sabe, com certeza, é que produtos como o petróleo, se ingeridos em grandes quantidades, podem ser tóxicos.
8. Quais são as hipóteses que explicam o derramamento?
Pesquisadores das universidades federais da Bahia e Sergipe, em parceria com a Universidade Estadual de Feira de Santana, analisaram sete amostras da costa sergipana e duas da baiana para analisar a possível origem do petróleo.
Segundo a pesquisadora Olívia Oliveira, em entrevista coletiva no Instituto de Geociências da UFBA (Universidade Federal da Bahia) na última quinta (10), as análises indicam que o material é venezuelano, como apurado pela reportagem e confirmado pelas análises da Petrobras na última segunda (7).
O Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, também corroborou a versão da estatal. "Esse petróleo que está vindo muito provavelmente é da Venezuela, como disse o estudo do Petrobras. É um petróleo que vem de um navio estrangeiro, ao que tudo indica, navegando perto da costa brasileira, com derramamento acidental ou não".
Outro grupo de pesquisadores, da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e da UFRPE (Universidade Federal Rural de Pernambuco), também investiga a origem do óleo desde o início de setembro.
De lá para cá, o grupo reuniu imagens de satélite que registraram um suposto navio na costa pernambucana. Ainda não há resultado conclusivo devido a qualidade da imagem, que foi aproximada para se analisar ponto a ponto.
Eduardo Elvino, diretor de controle de fontes poluidoras da CPRH (Agência Pernambucana de Meio Ambiente), disse à reportagem que não há, até o momento, detalhes sobre a possível embarcação e que não é possível precisar a distância entre o ponto que está sendo analisado e a costa pernambucana. Ele disse também, sem especificar a quantidade, que, na imagem, aparecem vários navios que estão sob análise.
Dois pesquisadores especializados em dinâmica de correntes marítimas fizeram simulações de computador para chegar a resultados que indicam que a origem das manchas de óleo nas praias do Nordeste está no alto-mar, a pelo menos 400 km da costa.
Um dos pesquisadores, Fernando Túlio Camilo Barreto, vinculado ao INPE, desenvolveu em seu doutorado um modelo de simulação que estima o deslocamento do óleo na água levando em consideração a composição química dos elementos, as correntes marítimas, o vento e as ondas. O pesquisador foi procurado pela Marinha para ajudar na localização da origem das manchas através de suas simulações.
O professor de oceanografia física da USP, Ilson Silveira, que estuda circulação oceânica, estimou no simulador qual seria a trajetória de objetos à deriva no mar próximo à costa do Nordeste, ou seja, a menos de 50 km. O resultado indicou que eles chegariam à costa em pouco tempo, em locais muito próximos entre si, e se deslocando em direção ao Rio Grande do Norte, acompanhando a Corrente Norte, que é muito forte.
9. Há riscos de o óleo atingir estados do Norte ou do Sudeste?
As alterações na circulação oceânica e atmosférica reduzem o deslocamento da mancha de óleo para a região Norte, segundo o pesquisador Guilherme Lessa, da UFBA (Universidade Federal da Bahia).
A partir de setembro, há um deslocamento de massas de água costeiras para o sul, o que pode levar o óleo para áreas distantes. Contudo, não é possível prever se o Sudeste ou outros estados serão afetados, considerando que não se sabe exatamente a origem e quantidade de óleo no vazamento.
10. O que o governo está fazendo para controlar a situação?
Em nota, a Marinha aponta que foram empregados, até o momento, 1.583 militares, 5 navios, uma aeronave de 48 Capitanias dos Portos na contenção, neutralização e investigação das manchas de óleo.
Ainda de acordo com a Marinha, 30 navios-tanque de 10 países diferentes serão notificados para prestarem esclarecimentos. "A Marinha entrará em contato com as autoridades competentes dos países dessas bandeiras, com a Organização Marítima Internacional e com a Polícia Federal, visando elucidar todos os fatos".
O Ibama requisitou apoio a Petrobras para a limpeza das praias. A estatal é a responsável por contratar pessoas entre agentes comunitários e cidadãos locais para receberem treinamento e auxiliarem na limpeza dos locais atingidos. Não há, ainda, informações sobre o número de pessoas envolvidas nas ações.
Além disso, o governo de Sergipe instalou barreiras de contenção na foz dos rios Sergipe e Vaza-Barris, dois dos mais importantes do estado, para conter o óleo.
11. Se eu encontrar manchas de óleo em alguma praia, quem devo avisar?
O Ibama orienta que banhistas e pescadores não entrem em contato com o óleo e que, se identificarem o material, notifiquem a prefeitura da cidade.
Caso cidadãos encontrem animais com óleo, devem acionar os órgãos ambientais municipais ou estaduais. Esses animais não devem ser lavados e devolvidos ao mar.