SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um dos sites da Nasa reescreveu um texto sobre a fumaça criada por incêndios florestais na Amazônia, retirando uma menção ao Inpe, porque ainda seria cedo para dizer que 2019 registra recorde de queimadas, afirmou um desenvolvedor do site. A versão anterior do texto citava dados do instituto sobre o total de queimadas no Brasil desde o início do ano, 73 mil.
Na última quarta (21) de agosto, um dos blogs do site da Nasa publicou o texto "Incêndios na floresta tropical brasileira criam fumaça de atravessa o país". Na primeira versão da página, os dados do Programa Queimadas, do Inpe, eram citados como uma possibilidade de recorde de incêndios.
Ontem (22), o texto foi alterado pelo desenvolvedor Lynn Jenner. O novo texto não menciona o Inpe e relativiza a intensidade das queimadas. "Não é incomum ver incêndios no Brasil nesta época do ano devido às altas temperaturas e baixa umidade. O tempo dirá se este ano é um recorde ou se está apenas dentro dos limites normais", diz a publicação.
Em entrevista à Folha de S.Paulo o chefe do Laboratório de Ciências Biosféricas do Centro Goddard de Voo Espacial da Nasa, em Maryland, nos Estados Unidos, Douglas Morton, garantiu que há sinais de que o desmatamento no Brasil está aumentando e que é possível relacionar as queimadas ao desmatamento.
"Dez dias atrás, olhei as imagens dos nosso sensores dos satélites em órbita e eles mostravam claramente os focos de calor separados, com colunas de fumaça enormes saindo daquelas áreas da fronteira agrícola, como Novo Progresso, a região da Terra do Meio, no Pará, e o sudeste do estado do Amazonas. Não existe uma quantidade de combustível suficientemente alta para gerar aquelas colunas de fumaça se aquilo for somente limpeza de pasto, por exemplo", diz Morton.
Para o coordenador do programa Queimadas, do Inpe, Alberto Setzer, as informações dos satélites da Nasa confirmam os dados do Instituto brasileiro. "A afirmação [da Nasa] coincide com os dados do Programa Queimadas do Inpe. Os dados de focos de queima de vegetação que usamos na geração dos nossos dados -os focos do satélite Aqua- são em princípio exatamente os mesmos que a Nasa usa no monitoramento que fazem para todo planeta. Os valores finais do Inpe são um pouquinho inferiores, pois retiramos o sinal de fontes industriais, como siderúrgicas", explica.