Três dias depois de criticar a divulgação de dados sobre desmatamento pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o presidente Jair Bolsonaro defendeu nesta segunda-feira (22) "disciplina e hierarquia" para publicação das informações. Ele disse que não quer ser "pego de calças curtas" com questões importantes que podem prejudicar negociações comerciais do Brasil:
— Você pode divulgar os dados, mas tem que passar pelas autoridades até para não ser surpreendido. Até por mim, eu não posso ser surpreendido por uma informação tão importante como essa daí. Eu não posso ser pego de calças curtas. As informações têm que chegar a nosso conhecimento de modo que nós possamos tomar decisões precisas em cima dessas informações.
Na sexta-feira (19), Bolsonaro criticou o diretor do Inpe, Ricardo Galvão, por causa dos dados recentes sobre desmatamento. Segundo esses dados preliminares de satélites do Inpe, mais de 1 mil quilômetros quadrados (km²) de floresta amazônica foram derrubados na primeira quinzena deste mês — aumento de 68% em relação a julho de 2018. As informações são do Deter, sistema da instituição que lança alertas sobre mudanças de vegetação.
Os dados consolidados sobre o desmatamento total no ano (período entre julho de um ano e agosto do ano seguinte) são produzidas pelo Prodes, outro projeto do Inpe. O Deter, contudo, é um forte indicativo sobre as tendências de desmate na Amazônia.
— Eu estou acostumado com hierarquia e disciplina e no governo, sei que a maioria é civil, nós devemos no mínimo ter isso. Então, quando o Inpe detecta um dado qualquer, ele tem que subir os dados, no caso, para o ministro Marcos Pontes, de Ciência e Tecnologia, antes passando pelo Ibama para divulgar — defendeu.
Nesta segunda, Pontes afirmou, em nota publicada em rede social, que compartilha da estranheza expressa por Bolsonaro quanto aos dados do desmatamento que o Inpe produz.
Na visão do presidente, a publicação desse tipo de informações pode prejudicar negociações comerciais do Brasil. Em junho, na véspera do G20, o presidente francês, Emmanuel Macron, chegou a ameaçar suspender as tratativas comerciais entre a União Europeia e o Mercosul se Bolsonaro não se comprometesse com o Acordo de Paris, que trata de questões climáticas. Após a conversa entre ambos e compromisso do brasileiro, o tratado foi assinado.
— Não pode alguém na ponta da linha alguém simplesmente resolver divulgar esses dados porque pode haver algum equívoco e neste caso, como divulgou, há um enorme estrago para o Brasil. A questão ambiental o mundo todo leva em conta. Outros países, com os quais estamos negociando a questão do Mercosul, ou até um acordo bilateral, dificultam (as tratativas) com a divulgação desses dados — afirmou.
Ele disse ainda que o chefe do Inpe vai ser ouvido pelos ministros para prestar esclarecimentos sobre os dados que chamou de "exagerados".
— Você pode ver, é a mesma coisa aqui que um sargento e um cabo passa para frente uma noticia sem passar pelo capitão, coronel, brigadeiro, não está certo isto daí — disse, ao defender hierarquia e disciplina.