O traficante de animais preso na noite de quarta-feira (6) na BR-290, em Eldorado do Sul, transportando 800 tartarugas disse que já havia realizado outras duas viagens semelhantes desde a metade de janeiro. A Polícia Civil, que investiga o caso, já tem informações de que ele integra um grupo que recolhe ovos em lagoas do Rio Grande do Sul para colocar em açude próprio com o objetivo de monitorar a desova e transportar os animais recém-nascidos para Santa Catarina. O nome do traficante ainda não foi divulgado pelas autoridades.
O criminoso foi preso em uma abordagem da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e transportava os filhotes em quatro sacos de panos sem qualquer tipo de iluminação e ventilação. Eles também não recebiam água nem alimentação. O homem conduzia um veículo Kia Cerato e estava levando os animais para Florianópolis, em Santa Catarina. As tartarugas que sobrevivessem às condições precárias seriam vendidas por cerca de R$ 50 em lojas especializadas.
Conforme a lei dos crimes ambientais, ele assinou termo circunstanciado e, se condenado, pode pegar de um a quatro anos de prisão, pena que geralmente é revertida em pagamento de cesta básica e prestação de serviço à comunidade. O delegado Rodrigo Caldas, titular da delegacia de polícia de Eldorado do Sul, destaca que está buscando mais agravantes para instaurar um inquérito. O objetivo é responsabilizar o preso, que é de Santa Catarina e tem 49 anos, em outros tipos de crimes e ainda pelo fato de ele ter antecedentes por crimes ambientais, bem como por já ter realizado outras duas viagens neste ano para Florianópolis com filhotes de tartarugas.
Maus-tratos aos animais
Enquanto a polícia tenta identificar o viveiro clandestino, outros envolvidos no tráfico e também os receptadores dos animais, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em Porto Alegre recebeu os 800 filhotes. Paulo Guilherme Carniel Wagner, médico veterinário, analista ambiental e responsável pela área silvestre do órgão, disse, por volta de 11h25min desta quinta-feira (7), quatro animais haviam morrido e que outros devem morrer.
– Eles estão estressados devido aos maus-tratos e ficarão pelo menos por uma semana aqui no Ibama, em um taque, para se recuperarem. Depois, vamos devolvê-los ao seu habitat natural – ressalta Wagner
Segundo o Ibama, a espécie foi identificada como tigre-d'água e é nativa do Rio Grande do Sul. No entanto, devido ao tráfico, já há espécies em todo o país e até no Exterior. Wagner diz que os parques de Porto Alegre são repletos destas tartarugas, principalmente porque, ao crescerem, são abandonadas pelos donos. Os animais, quando adultos, chegam a 25 centímetros de comprimento e podem viver cerca de 30 anos. Os filhotes apreendidos tinham menos de dez dias.
Multa de R$ 400 mil
O traficante preso informou à polícia um fato preocupante que foi confirmado pelo Ibama como recorrente no caso de tráfico de animais. Os criminosos recolhem ovos nas margens das lagoas Mangueira e Mirim, no sul do Estado, para depois colocarem em um viveiro próprio, cujo local ainda não foi descoberto. Depois disso, ficam monitorando a desova em Pelotas para pegar os filhotes, colocar em sacos e repassar para o responsável pelo transporte até Santa Catarina.
– O objetivo deles é o lucro, e não a vida. Eles já pegam os filhotes após a desova e colocam sem alimento em sacos para a viagem até Florianópolis – explica Wagner.
Tanto o Ibama quanto a Polícia Civil ressaltam que há um decreto estadual que proíbe a reprodução em cativeiro e a comercialização deste espécie no Rio Grande do Sul. Por isso os filhotes são levados para Santa Catarina. Wagner diz que, em média, a multa para casos como estes é de R$ 400 mil, mas que geralmente não é aplicada pelo fato de que os traficantes usam "laranjas" para transportar os filhotes.
No caso do homem preso com 800 tartarugas em Eldorado do Sul, por exemplo, ele não possui nenhum bem em seu nome e, como em casos anteriores, existe dificuldade em aplicar a multa.