A mineradora Vale informou nesta segunda-feira (4) que duas barreiras de contenção de rejeito no Rio Paraopeba, instaladas no fim de semana, estão em funcionamento. A estrutura, semelhante a um filtro, foi colocada para proteger o sistema de captação de água que abastece o município de Pará de Minas (MG), localizado a cerca de 40 quilômetros de Brumadinho (MG). A instalação de uma terceira barreira é prevista ainda para esta segunda-feira, mas depende das condições meteorológicas. A previsão é de chuva para a região, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
A situação do Rio Paraopeba após o rompimento da barragem da Mina do Feijão, em Brumadinho, vem sendo monitorada pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM), estatal vinculada ao Ministério de Minas e Energia. As barreiras têm 30m de comprimento e ficam a cerca de 3m de profundidade, com o objetivo de filtrar partículas sólidas, como argila, rochas ou matéria orgânica.Embora tenha como objetivo permitir que o sistema para captação e abastecimento de Pará de Minas continue operando, as barreiras não trazem segurança para o uso da água bruta.
A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) vem orientando que a água não seja utilizada para nenhuma finalidade. Com base em resultados preliminares de amostras da água, o órgão recomenda que seja mantida distância de 100 metros para as margens do rio. A pasta também aconselhou a população a não consumir alimentos ou água que tiveram contato com a lama, incluindo peixes e até mesmo produtos embalados. Em nota, a Vale afirmou que o rejeito “é formado por sílica, ou seja, basicamente terra, portanto não é tóxico”.
O desastre ambiental em Brumadinho deve se reverter de forma imediata e a longo prazo na saúde de habitantes e bombeiros que entraram em contato com a lama. O Ministério da Saúde alertou, em sua página online, sobre o risco de contaminação da água e dos alimentos – dentre as consequências, estão diarreia, cólera, febre tifoide, hepatite A, giardíase, amebíase, verminoses e leptospirose. Ainda a curto prazo, há risco de leishmaniose e dengue e de contato com animais venenosos, como aranhas, cobras ou escorpiões.
A leptospirose é causada por uma bactéria presente na urina de ratos e que pode se espalhar pela água suja da lama ou pelo xixi de animais contaminados, como bois, porcos, cavalos, cabras, ovelhas e cães. A dengue fica em água parada e a leishmaniose, transmitida por insetos que carregam um protozoário.
O risco de tétano também aumenta – a bactéria não fica alojada apenas em metal, mas também em pedaços de madeira, vidro ou até mesmo no solo. A infecção ocorre por cortes ou perfurações em objetos contaminados.
A longo prazo, há chances de desenvolvimento de câncer ou de doenças autoimunes. Elementos como níquel, magnésio, chumbo e cromo, encontrados em mineração, são prejudiciais à saúde. Se entrarem em contato com peixes e o animal for ingerido pelo ser humano, também há risco de contaminação. Há bombeiros que precisaram abandonar o trabalho de resgate após sentir enjoos ou vômitos.
— Para as pessoas que sobreviveram, o risco maior é de aspirar material eventualmente contaminado por metais pesados. Há também o risco ambiental por depósito em peixes ou plantas. E, é claro, o estresse pós-traumático, que pode desencadear distúrbios de ansiedade, pesadelos, depressão e risco de suicídio — analisa Luiz Antonio Nasi, superintendente médico do Hospital Moinhos de Vento e professor do departamento de emergência da UFRGS.
Após a forte chuva da madrugada e desta manhã, bombeiros retomaram, à tarde, às buscas por vítimas no rio Paraopeba, em botes e a pé nas margens - helicópteros não puderam ser usados devido à tempestade. Até agora, 134 mortes foram confirmadas. Destas, 120 pessoas foram identificadas, e outros 199 seguem desaparecidos. As chuvas, que devem continuar nos próximos dias, podem provocar deslizamento de rejeitos, colocando em risco as equipes. Por outro lado, amolecem partes específicas de lama que estavam endurecidas e facilitam as buscas por corpos boiando na água.
Segundo o porta-voz do Corpo de Bombeiros, Pedro Aihara, o número de vítimas identificadas deve reduzir à medida em que o tempo passa.
— Nos primeiros dias os corpos estavam em níveis superficiais, era mais fácil localizá-los e retirá-los. Agora o trabalho é muito mais meticuloso, também para não prejudicar a identificação — disse.
As buscas devem tomar tempo: na tragédia de Mariana (MG), em que morreram 19 pessoas, os trabalhos duraram mais de três meses.
*Com agências