Aguardar pelas reformas prometidas pelo governo está fora dos planos de alguns pais, alunos e professores de escolas da rede estadual de Porto Alegre. Muitos deles têm arregaçado as mangas e trabalhado por conta na manutenção das escolas antes do início do ano letivo, no dia 20.
Na terça-feira, alunos da Escola Estadual General Neto, no bairro Lageado, na Zona Sul, promoveram ao lado da professora de português Aline Pinto um pedágio solidário. Com uma faixa em mãos, eles abordavam os veículos que passavam em frente à escola, na Avenida Edgar Pires de Castro. A meta era arrecadar R$ 300. Eles chegaram ao fim da jornada com R$ 291.
— Precisamos comprar tinta, colocar as redes de vôlei e de basquete, trocar lâmpadas e instalar os aparelhos de ar-condicionado que ganhamos — explicou Mariana Martins, 15 anos, do 9º ano.
A gurizada poderia estar em casa, curtindo as férias, mas preferiu garantir que retornaria às aulas com os recursos necessários para as obras.
— Este já é o quarto pedágio que eles realizam. Começou por iniciativa deles — conta a professora Aline.
Em 2007, o prédio da General Neto foi consumido por um incêndio. Em 2010, uma construção nova foi entregue à comunidade. Mas, até isso ocorrer, os alunos frequentaram aulas no galpão crioulo de um clube e em contêineres. Preservar o espaço que tem agora é essencial para escola, que não quer relembrar os apertos do passado.
Limpeza pesada para receber alunos
Professores, pais e estudantes da Escola Estadual de Ensino Médio Anne Frank, no bairro Bom Fim, reservaram dois sábados das férias para organizar a escola.
De acordo com a vice-diretora Angela Santos, a proposta era limpar e refazer a pintura. No primeiro dia, 20 pessoas foram.
— A ideia surgiu dos alunos e foi organizada num grupo de WhatsApp. Escolhemos um dia em que a maioria pudesse vir e deu certo — conta ela.
Para a direção, esses movimentos fortalecem o vínculo entre escola e comunidade.
— É tão bom que os alunos possam chegar e encontrar uma escola decente — destaca Angela.
Mobilização não pode parar
Para a Angela Zanettini, diretora da escola da Escola Estadual David Canabarro, no bairro Jardim Leopoldina, o mutirão é uma excelente ferramenta para manter a escola organizada e unida. Só em janeiro, alunos, ex-alunos, professores, pais e vizinhos se reuniram oito vezes para limpar, recolher o lixo, pintar e reformar o espaço. Na primeira vez, cerca de 30 pessoas participaram.
— Estamos trocando lâmpadas, trocando fechaduras, o forro de PVC das salas, e refazendo a pintura. No dia 24 de fevereiro, vamos encerrar o mutirão com um grupo de grafiteiros, que virá voluntariamente fazer a pintura do muro — explica a diretora.
A organização dos encontros foi realizada pelo Facebook. Uma página foi criada e o convite aberto para todos participarem. Agora, a proposta da equipe diretiva é manter as mobilizações ao longo do ano.
— Queremos construir uma escola prazerosa, acolhedora para os alunos. Sabemos que há muitas necessidades, elencamos as prioridades e começamos a motivar a comunidade. É importante que todos entendam que os alunos saem, outros chegam, que a direção muda, mas a escola estará sempre aqui para eles — declarou a diretora.
A David Canabarro atende cerca de 450 alunos e ainda precisa fazer a troca das portas de alguns banheiros, lâmpadas, fechaduras e realizar a compra de material para educação física. A escola recebe, a cada quadrimestre, aproximadamente R$ 5 mil de verba, metade destinada para manutenção.
Secretaria vê ações como positivas
De acordo com a Secretaria Estadual de Educação, o envolvimento da comunidade é visto de maneira positiva. Muitas direções de escolas estão levando a comunidade para dentro das instituições por meio de convites espontâneos. “No momento em que a comunidade passa a se aproximar da escola, ocorre a criação de uma relação positiva entre alunos, pais e a instituição. Desta maneira, o senso de responsabilidade em relação às estruturas das escolas é ampliado, com os próprios alunos aumentando seus cuidados ao se sentirem como parte atuante no ambiente, por meio da colaboração”, defende a Secretaria, em comunicado.
Atualmente, conforme informado pelo órgão, existem mais de 400 obras em andamento nas escolas estaduais do Rio Grande do Sul e cerca de 230 em fase de licitação ou elaboração de contrato.
Anote aí
As escolas deram dicas de como organizar mutirões e envolver a comunidade:
- Aproveite as reuniões periódicas para trocar ideias com alunos, professores e pais
- Defina quais são as prioridades da escola
- Faça uso das redes sociais, elas são excelentes ferramentas de mobilização. Crie páginas no Facebook ou grupos no WhatsApp para organizar o mutirão
- Deixe o convite aberto para toda comunidade, inclusive ex-alunos e ex-funcionários
- Mantenha o mutirão ao longo do ano