As famílias afetadas pelos alagamentos da última semana em São Gabriel, na Fronteira Oeste, retornaram para suas casas entre quarta (16) e esta quinta-feira (17), apesar do mau tempo, que voltou a castigar a região. Segundo o último boletim da Defesa Civil, três pessoas seguem desalojadas no município.
Os ribeirinhos do Rio Vacacaí, que circunda o bairro Mato Grosso, ainda contabilizam os prejuízos causados pelas chuvas: móveis e eletrodomésticos ficaram embaixo d'água. Além disso, cinco casas que ficam na beira do rio ficaram parcialmente submersas.
No dia em que as águas ultrapassaram os muros, o aposentado Bena Petin, 61 anos, improvisou um pé de cabra para derrubar a janela e salvar os pertences antes que ficassem encharcados.
— Bati com um ferro, quebrei parte da parede e arranquei a janela para tirar os móveis. Tinha duas motos dentro de casa, dos guris que mexem com mecânica. Chamei os guris (vizinhos) para ajudar a tirar as motos.
Na casa de três cômodos, o aposentado vive com a esposa Ana Cláudia. A mãe dele deixou a cidade e foi morar na casa de familiares em Bento Gonçalves, na Serra, por causa dos constantes alagamentos.
O drama de quem vive ao lado do rio parece trivial.
— Nem me assusto mais, já me acostumei — afirma Ana Cláudia, apontando para o armário embutido que desabou com a força da água.
A família Betin voltou a ocupar a residência nesta quinta-feira mesmo estando com todos os móveis e objetos empilhados. A marca da água na parede supera 1,5 metro, onde brota um mofo que expõe a intempérie. Nos dias seguintes ao alagamento, eles dormiram no terreno do vizinho, em estruturas armadas com lonas emprestadas pelo aposentado Valmir Gomes de Castro.
— Não dá para abandonar a casa. Por isso, enchemos o pátio aqui com barracas. Muita gente se abrigou — conta Castro.
Cerca de 50 pessoas ficaram hospedadas no terreno, conhecido na cidade como "usina". Hoje, no local, há apenas o esqueleto de um prédio que um dia fora utilizado pela Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE).
A residência da dona de casa Vera Maria de Castro da Silva também foi invadida por água e lama. O muro de três metros de altura não foi suficiente para conter a enchente do Vacacaí.
— É uma lama só que sai do rio — conta a dona de casa que a irmã e cinco crianças.
Outro bairro que foi bastante afetado pelo temporal é o Santa Brígida, que costeia a RS-630. Beneficiário do INSS por um problema na coluna, Dilmar Lima convive há uma década com o Rio Vacacaí no quintal de casa. Ele conta que há uma semana a água invadiu sua residência e em minutos já havia ultrapassado 30 centímetros de altura. Em frente ao portão de Dilmar, três pilhas de entulhos dão a dimensão dos prejuízos.
— Nunca tinha visto tanta água assim — contou, apontando para o risco na parede.
Alguns moradores do bairro dormiram em um pequeno armazém, privilegiado por estar localizado do outro lado da rodovia. Um caminhão e um ônibus também foram usados como abrigo. Luciana Alves Soares e o filho precisaram passar a noite em um dos veículos.
— Eu saí de casa na quinta-feira passada e só voltei no início dessa semana para poder limpar. Se não fosse o vizinho emprestar o caminhão, a gente tinha perdido tudo – relata, indignada, apontando para o colchão com molas aparentes, inutilizado pela água.
Além disso, na sala, os armários ficaram com as portas dependurada. Das três televisões da casa, a dona de casa tem esperança ainda de que uma delas volte a funcionar:
— Deixei ela de cabeça pra baixo em cima da cama para ver se liga.
Levantamento dos prejuízos
A prefeitura visitou os moradores afetados pela cheia do rio durante esta quinta-feira. O objetivo é documentar as perdas, para oferecer ajuda aos atingidos. Há a intenção da Câmara de Vereadores de aprovar um projeto de lei que isente a taxa de água por dois meses, para que os moradores possam limpar a lama que ainda resta nas residências.
— Muitos estão tentando o FGTS também para pagar os produtos de limpeza — explica a assistente social, Mariuza Saraiva.
Em alerta
O coordenador regional da Defesa Civil, major Rinaldo Castro, avalia que, se continuar chovendo, os moradores podem ter de ser retirados de casa novamente. Somente na manhã desta quinta-feira, choveu 40 milímetros em São Gabriel.
— Com a chuva torrencial de hoje vamos monitorar, pois as pessoas podem ter de sair.