A prefeita de Alegrete, Cleni Paz da Silva, 61 anos, morreu na madrugada deste domingo (23), por volta das 2h. Ela lutava contra um câncer e estava internada na Santa Casa local desde sábado. A notícia foi confirmada pela página oficial da prefeitura da cidade, que também declarou três dias de luto, e pelo vice-prefeito e prefeito em exercício Márcio Amaral.
Cleni Paz anunciou a descoberta de um tumor no peritônio em julho deste ano e, ao longo dos meses, passou a realizar viagens a Porto Alegre para sessões de quimioterapia. Mesmo em tratamento, seguiu à frente da prefeitura.
—Enquanto puder trabalhar, vou trabalhar — dizia.
A doença regrediu, mas recentemente voltou no fígado. Há cerca de três semanas, Cleni pediu licença para fazer o acompanhamento em Santa Maria. No sábado, decidiu retornar a Alegrete. Queria voltar para casa, mas teve de ir para o hospital, onde chegou às 19h.
— A Cleni foi uma mulher que irá deixar um exemplo de superação e garra. Foi professora no interior do município, criou dois filhos sozinha, um médico e outro veterinário, formou-se em Direito e, após um mandato como vereadora, assumiu o cargo de mandatária do município, sendo a primeira mulher a ser prefeita em nossa cidade. Atualmente, vinha superando os desafios de administrar nosso município mesmo frente a toda crise nacional com austeridade e dinamismo. Sua vida foi repleta de lutas e conquistas, digna de uma grande guerreira — disse Amaral.
Cleni era a nona de 10 irmãos, nascida de um casal de produtores rurais do interior de Alegrete. Perdeu os pais cedo e foi criada por uma das irmãs, Geni da Silva. Fez o curso de Magistério e tornou-se professora aos 16 anos. Ensinando sempre para as séries iniciais, começou a trabalhar em uma escola rural, chegou a diretora de escola e aposentou-se em 2008, depois de 33 anos de atividade na rede municipal.
Também se formou em Direito, pela Urcamp, e advogou por quase duas décadas. Era carnavalesca e tradicionalista, tendo sido a primeira mulher a presidir o CTG Quero-Quero do Passo Novo. Em 2012, realizou o sonho de entrar para a política, elegendo-se vereadora pelo PP. Durante o mandato, foi presidente da Câmara Municipal. Em 2017, tornou-se a primeira mulher a comandar a prefeitura de Alegrete em quase dois séculos de história.
— A vida dela foi uma trajetória de lutas e de grandes vitórias. Era uma mulher de muita atitude, determinada e firme. Sempre dizia que tinha muito orgulho de ser professora e da terra onde criou os filhos. Ela fez história — diz a professora aposentada Carmem Lopes, 52 anos, amiga por quase três décadas.
O velório de Cleni iniciou por volta das 5h deste domingo no Salão Azul do Centro Administrativo Municipal e o enterro ocorrerá às 15h, no Jardim dos Prefeitos, junto ao Cemitério Municipal. Amigos e cidadãos de Alegrete, surpreendidos com a morte, deixaram mensagens nas redes sociais da prefeita na manhã deste domingo:
"Meu coração está partido por nos deixar. Ficarei com teu exemplo de honestidade, amizade, conselheira, e o orgulho de ter sido a primeira mulher prefeita da minha cidade. Descanse em paz, eterna amiga", escreveu o amigo Dariano Moraes.