O governo cubano afirmou que um grupo de 196 médicos retornou nesta quinta-feira (15) ao país após três anos de trabalho no Brasil. De acordo com Cuba, esses são os primeiros a voltar após o anúncio de Havana de sair do programa Mais Médicos devido às críticas do presidente eleito Jair Bolsonaro. O governo de Cuba não confirma, entretanto, se os médicos já estavam com viagem marcada antes do encerramento do programa ou se as viagens foram marcadas depois do anúncio do Ministério da Saúde local.
A Agência Cubana de Notícias (ACN) — veículo oficial do governo local — afirma que os médicos chegaram "felizes por terem cumprido sua missão", mas também "preocupados com a sorte do povo brasileiro com o novo presidente eleito".
Cuba anunciou na quarta-feira (14) que iria abandonar o programa brasileiro — do qual participa desde a sua criação, em 2013, através da Organização Pan-Americana de Saúde (OPS) — devido a declarações de Bolsonaro, que anunciou mudanças a partir de 1º de janeiro.
"O Ministério da Saúde Pública de Cuba tomou a decisão de não continuar participando do programa Mais Médicos e assim o comunicou à diretora da OPS e aos líderes políticos brasileiros que fundaram e defenderam esta iniciativa", diz um comunicado oficial de Cuba.
Em diferentes momentos de sua campanha eleitoral, Bolsonaro anunciou que suspenderia este programa com a OPS e Cuba, e que seu governo contrataria individualmente os médicos que desejassem permanecer no Brasil. Também questionou "o preparo" dos médicos e condicionou "a sua permanência no programa à revalidação do título", destaca o texto oficial cubano.
Cerca de 20 mil médicos cubanos trabalharam no Brasil durante cinco anos, e a decisão cubana afeta cerca de 8 mil que o fazem atualmente.
— A retirada do programa será apoiada por nossos médicos, pois nem os princípios nem a dignidade são negociáveis — afirmou a vice-ministra da Saúde de Cuba, Regla Angulo, ao receber os profissionais no aeroporto.
Segundo fontes diplomáticas brasileiras, todos os médicos cubanos retornarão a seu país antes do Natal, embora calculem que cerca de 2 mil poderiam permanecer no Brasil devido a relacionamentos amorosos e familiares, que lhes permitiriam obter o visto de residência.