A saída de Cuba do Mais Médicos já se reflete em suspensão dos serviços de saúde nos municípios da Região Central do Estado. Conforme a Associação dos Municípios da Região Centro (AM Centro), a atenção básica de saúde perderá 40 cubanos em 31 municípios. Levantamento feito por GaúchaZH aponta que São Gabriel é, no centro do RS, o município mais impactado com a medida. Por lá, onde 13 cubanos atuavam, as atividades se encerraram ainda na terça-feira (20). Com isso, nove unidades de saúde e um posto da zona rural terão um prejuízo estimado no atendimento de 30 mil pessoas.
Dos 13 cubanos, 12 deles atuavam na cidade e um na zona rural. O secretário de saúde de São Gabriel, Ricardo Coirolo, se mostra apreensivo e, agora, a preocupação é com os moradores do campo que estão descobertos de qualquer atendimento.
— Eles (cubanos) tinham um papel vital na atenção básica à saúde e engajados com a nossa comunidade. Veja que, por exemplo, nove (dos cubanos) estavam há um ano e meio, três deles há quatro anos e outro chegou há três meses — avalia Coirolo.
Agora, segundo o secretário, se buscará realizar o remanejamento de alguns médicos. A prefeitura tem, de longa data, um contrato com o Hospital Santa Casa – que presta atividades à rede municipal – e se tentará, de alguma forma, suprir essa lacuna. Em São Gabriel, 80% da população conta com o SUS. A Secretaria de Saúde tem, no quadro de médicos, 50 profissionais (entre contratados e terceirizados).
Já em Cachoeira do Sul, que tem cinco cubanas, as atividades ainda estão mantidas. Mas não por muito tempo, é o que projeta o secretário de Saúde, Roger Gomes da Rosa. Ele avalia que, até sexta-feira (23), elas deixem o município. Das cinco cubanas, três delas trabalham numa unidade do Estratégia de Saúde da Família (ESF) dentro da cidade e outras duas na zona rural. O número de médicos cubanos já foi maior em um passado recente: sete, entre 2013 e 2015.
O secretário é taxativo ao dizer que “não há margem” para fazer qualquer manobra de utilização de outros médicos para os locais onde trabalhavam as cubanas. A Secretaria de Saúde estima que, pelo menos, 18 localidades do interior tenham prejuízo de atendimento com a saída dos médicos. No município, 70% da população depende do SUS.
Outro município prejudicado é Restinga Seca. Por lá, com a saída, ainda na terça-feira (20), dos dois cubanos, os serviços já foram interrompidos. O saldo é a suspensão temporária das atividades em uma unidade móvel de saúde - que que contava com apenas um médico (que era cubano) - descobrindo 20 localidades do interior que, agora, não terão mais atendimentos.
Já no posto do ESF, restou agora apenas um médico brasileiro que ficará responsável para dar cobertura a uma população de 2,8 mil habitantes do campo, sendo duas comunidades quilombolas. A secretária de Saúde, Jocelaine Brauner, define a situação como “caótica e extremamente preocupante”. Com a saída dos cubanos, o quadro de médicos de toda a prefeitura se reduz a cinco - 80% da população usa o SUS.
Em Santa Maria, maior município do centro do Estado em que 85% da população usa o SUS, são três médicas cubanas que atuam no ESF na cidade e na zona rural. Ainda que elas sigam trabalhando, a prefeitura afirma que já providenciou um reforço de profissionais para essas unidades onde as estrangeiras atuam.
Desde que chegaram ao centro do Estado, os cubanos prestaram mais de 1,4 milhão de atendimentos à população que precisa do SUS, conforme a AM Centro. A associação trabalha para concluir um levantamento detalhado da situação de cada município associado e, assim, mapear quais já estão sem os profissionais.