Caxienses interessados em acolher temporariamente crianças e adolescentes que estão em abrigos e casas lares em Caxias do Sul poderão se inscrever a partir do próximo semestre para se tornarem famílias acolhedoras. Essa modalidade de acolhimento tem o objetivo de proporcionar à criança a vivência familiar, diferente da relação mais institucional dos abrigos, até que possa voltar à família de origem ou, se isso não for possível, ser encaminhada para adoção.
Essa modalidade de acolhimento foi implantada na cidade no fim de 2006 e encerrada alguns anos depois devido à pouca adesão de interessados. Presidente da Fundação de Assistência Social (FAS) na época, Maria de Lourdes Grison entende que havia uma ideia, por parte de potenciais famílias, de que elas sofreriam com a eventual separação da criança acolhida, pelo vínculo formado, e de que haveria sofrimento por parte da criança no retorno ao ambiente familiar de origem, também em função, muitas vezes, da menor disponibilidade de bens materiais.
— Trata-se de uma visão preconceituosa. Uma criança não precisa de TV 50 polegadas. Ela precisa de afeto e se sentir cuidada — comenta Maria de Lourdes, que enfatiza que é feito um trabalho de acompanhamento profissional com assistentes sociais e psicólogos para buscar a reinserção da criança na família biológica.
A ex-presidente da FAS acrescenta que as famílias acolhedoras podem prosseguir acompanhando a criança que acolheram como padrinhos afetivos, outro programa que voltará a ocorrer em Caxias, e considera que é importante esclarecer esses aspectos às famílias interessadas. No apadrinhamento afetivo, uma pessoa se candidata para fazer o acompanhamento de uma criança ou adolescente acolhido na rede de assistência social, o que envolve atividades como sair com a criança para passear, assistir a apresentações escolares e estar presente em momentos importantes da vida do afilhado.
Atual presidente da FAS, Rosana Menegotto diz que será feito um trabalho aprofundado de captação, seleção e capacitação das pessoas interessadas em atuar como famílias acolhedoras. Segundo ela, diferentemente do que ocorreu na primeira vez em que houve a modalidade em Caxias, só poderão ser encaminhadas a famílias acolhedoras as crianças que já estiverem em abrigos ou casas lares, e não diretamente do ambiente familiar do qual, por qualquer motivo, tiverem sido retiradas por decisão do Juizado da Infância e da Juventude.
— Dessa forma, já teremos um acompanhamento daquela criança ou daquele adolescente, conhecendo as suas particularidades - vamos saber, por exemplo, se precisam de algum cuidado especial de saúde — explica, destacando que, assim, se teria uma ideia mais clara sobre a possibilidade de acolhimento temporário dessa criança por uma família. Outra ideia para o processo de acolhimento é que os interessados comecem como padrinhos afetivos para, depois, se tornarem famílias acolhedoras.
Tanto Maria de Lourdes quanto Rosana e o titular do Juizado da Infância e da Juventude de Caxias do Sul, Leoberto Brancher, defendem o formato da família acolhedora, que consideram mais avançado que o dos abrigos. Além da inserção da criança em uma rotina familiar, o programa é mais econômico do que as atuais formas de acolhimento. Conforme Rosana, enquanto os cuidados de uma criança no abrigo hoje custam R$ 11,5 mil por mês, as despesas com o programa das famílias acolhedoras ficam em R$ 4 mil.
Parceria com entidade a partir de agosto
No edital lançado neste ano pela FAS para formar parceria com uma entidade na administração do serviço de famílias acolhedoras e programa de apadrinhamento afetivo, apenas uma instituição se inscreveu: a Associação Mão Amiga. A organização teve a proposta selecionada e homologada, faltando apenas a apresentação de documentos para assinatura de contrato por um ano, podendo ser prorrogado por até cinco anos. A proposta aprovada prevê até R$ 614.135,48 no período de um ano para aplicação em um espaço físico para recepção e capacitação de famílias interessadas e pagamento de profissionais, incluindo psicólogos e assistentes sociais.
O edital prevê que a entidade selecione 12 famílias acolhedoras e busque a meta de 60 pessoas para apadrinhamento afetivo. No caso das famílias acolhedoras, o período de permanência previsto é de até dois anos, com possibilidade de reavaliação para prorrogação do período.
Conforme Rosana, reuniões durante o mês de julho definirão a forma como os interessados poderão se candidatar. A parceria está prevista para começar formalmente a partir de 1º de agosto. A partir desta data, será aberta a casa que sediará os serviços, no bairro Rio Branco.
Maria Lucia Bettega, que ficará responsável pelo programa na Associação Mão Amiga, informa que, inicialmente, será feita a capacitação da equipe de profissionais que atuará nos programas. Uma campanha para chamar os interessados será lançada e, ainda em agosto, um grande evento deverá apresentar os programas, a forma de inscrição e os critérios de escolha das famílias. Uma das exigências é que a família esteja ciente de que não poderá adotar a criança que vier a acolher. A ideia é que em setembro já possa haver crianças sendo encaminhadas para essas novas modalidades.
Conforme a diretora de Proteção Social Especial de Alta Complexidade da FAS, Eler Sandra de Oliveira, as famílias acolhedoras selecionadas serão inscritas no programa de Guarda Subsidiada, que envolve uma ajuda de custo nas despesas com a criança - incluindo, por exemplo, compra de roupas e material escolar. O recurso da Guarda Subsidiada é de 50% da FAS e 50% do Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente. Em Caxias, a sede dos serviços deverá ficar na rua Sarmento Leite, próximo à esquina com a Avenida Rio Branco.