Os moradores de Muitos Capões ainda se recuperam do susto provocado pela forte chuva de granizo que atingiu o município na tarde desta sexta-feira (29). A prefeita Rita de Cassia Campos Pereira (DEM) decretou estado de emergência na manhã deste sábado e abriu as portas da prefeitura às 8h para cadastrar àqueles que precisam de ajuda para trocar os telhados. A chuva de pedras chegou ao município por volta das 17h30min de sexta. A precipitação de granizos se intensificou, e por cerca de dez minutos as pedras, apesar de pequenas, danificaram os telhados de 1oo residências.
Os estragos não foram tão sérios quanto os de agosto do ano passado, quando o interior de Muitos Capões foi atingido e mais de 100 famílias ficaram desalojadas. Tampouco foi devastador como o tornado que varreu a cidade em 29 de agosto de 2005, quando ventos de 110 quilômetros por hora deixaram um rasto de destruição e a forte chuva de pedras piorou a situação na cidade. Para as famílias, no entanto, o medo e o desespero é o mesmo a cada vez que o céu escurece e a previsão do tempo é de chuva. Sem Corpo de Bombeiros, o socorro cabe a um grupo da Defesa Civil formado por integrantes da prefeitura que ficam com os celulares de prontidão e estão sempre atentos aos boletins da previsão do tempo. Cerca de uma hora e meia após o temporal, 84 casas já haviam sido cobertas com lonas e a prefeitura estava atenta aos estragos.
A prefeita conta que assim que ouviu as pedras olhou para o relógio e pensou nas crianças que estavam saindo da escola e seriam levadas para o interior:
— No ano passado, o interior foi muito afetado e agora o granizo danificou casas na área central. A prioridade para ajudar será daqueles que tiveram mais estragos. Em seguida, os que têm mais dificuldades financeiras, os mais carentes, e, então, os que têm mais condições.
Ela pede a colaboração da comunidade para trocar as telhas e ajudar na reconstrução dos telhados. Até mesmo em doações de telhas de amianto se puderem ajudar:
— Nossa equipe é pequena, então, aqueles que podem ajudar, principalmente com mão de obra, podem entrar em contato com a prefeitura no 54 3612-2102.
Apesar do medo, confiança para recomeçar
Os vestígios da queda de granizo podiam ser visto na BR-285 que leva ao município. O trânsito chegou a ficar interrompido durante a chuva e a situação só normalizou por volta das 20h. As pedras cobriram a estrada e a entrada da cidade de branco. Parecia neve. Logo que parou a chuva, as equipes da prefeitura inciaram a entrega das lonas para cobrir as casas danificadas pelo temporal. Os relatos dos moradores são parecidos: medo, apreensão, mas fé de que tudo irá acabar bem. O desespero que domina a cidade é reflexo do tornado. As lembranças ainda estão bem vivas na memória após quase 13 anos.
No caso da funcionária pública Jane Pinto, 55 anos, que perdeu a casa no tornado, basta começar a chover para que o coração dispare.
— Não tem explicação. Começou a cair as pedras e aí vem o horror, o temor, o medo. Começo a andar de um lado para o outro. Em 2005, a Defesa Civil falou que estamos na rota dos tornados e o medo é o mesmo a cada temporal, queda de granizos e ventos fortes – desabafa Jane.
O filho dela o estudante Henrique Pinto dos Santos, 19, conta que até hoje lembra de cada momento do tornado. Por isso, quando a chuva começa, vem com ela a apreensão:
— Foi horrível. Tinha seis anos e lembro de tudo porque perdemos a casa naquela vez.
Resignação
O aposentado Adão Alvares Ribeiro, 74, mora sozinho e é um dos moradores que teve o telhado da casa danificado. As telhas terão que ser trocadas e a equipe da prefeitura está mobilizada para atender a comunidade. Já a dona de casa, Uliana Fagundes, 51, comemorou que o tempo estava claro e assim poderiam começar a trocar as telhas:
— Quando começou já improvisei com as lonas. Temos medo, mas não adianta se abater. Tem que seguir em frente e recomeçar — ressaltou Uliana.
A vizinha dela Cleusa Maria Pereira da Silva, 50, também ajudava o marido João, 54, e o filho Daniel, 24, a trocar as telhas da pequena casa de madeira:
— Tínhamos comprado telhas há pouco tempo e agora vamos trocar todo o telhado porque foi feio. Essa foi a primeira vez que o temporal destruiu a nossa casa, e tive muito medo, mas me acalmei, porque Deus sempre sabe o que faz — declarou Cleusa.
A dona de casa Izaura Fereira da Costa, 56, conta que o susto foi grande e só se acalmou quando um dos filhos chegou em casa:
— Se percebo uma nuvem escura e vento já começo a ficar nervosa e não fico sozinha em casa.
Na parte de trás da residência, onde mora a nora dela Tatiana Dutra Sastoldi, 30 anos, as pedras também deixaram estragos:
— Eu estava dirigindo quando começou a chover e entrei na garagem de uma amiga para me proteger, e já imaginei que chegaria em casa e teria estragos, e, realmente, molhou tudo, e quebrou as telhas, mas o pior foi o susto — relatou Tatiana.
Se chove não fico dentro de casa, diz morador de área atingida
José Cláudio da Silva, 63, lembra bem dos estragos deixados pelo tornado na cidade. A casa dele não foi atingida naquela vez, mas foi danificada com a chuva de granizo desta sexta-feira.
— Desde o tornado, mesmo que a minha casa tenha ficado inteira, quando chove eu saio de casa. Prefiro ficar lá fora, porque me sinto mais seguro — destacou o morador.
Cadastramento das famílias
O levantamento das residências atingidas está a cargo de um engenheiro da prefeitura que está percorrendo as áreas atingidas do município.