Mesmo com a decisão judicial impedindo a greve nacional dos petroleiros, mais de 80% dos trabalhadores da Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), em Canoas, não entraram para trabalhar desde a meia-noite desta quarta-feira (30). A estimativa é do presidente do Sindicato dos Petroleiros do Rio Grande do Sul (Sindipetro-RS), Fernando Maia da Costa:
— Nenhum petroleiro entrou para trabalhar no turno que começou à meia-noite e, agora de manhã, só uns 20% entraram, a maioria do administrativo ou e supervisor.
A paralisação de 72 horas convocada pela Federação Única dos Petroleiros (FUP), segundo o dirigente, é contra a política de preços de derivados da Petrobras, pedindo revisão nos valores do gás de cozinha e dos combustíveis, e não tem intenção de prejudicar a vida da população.
— Vamos apenas cruzar os braços. Não vamos trancar passagem de caminhão com combustível nem rodovias — garante Costa.
Pela manhã, houve confronto entre os manifestantes e a Brigada Militar (BM) próximo à Refap. Segundo o presidente do Sindipetro, os militares teriam se precipitado ao ver um grupo grande de trabalhadores se aproximar da BR-116 para ir até a refinaria. A BM usou bombas de efeito moral e a rodovia ficou bloqueada por alguns minutos (veja no vídeo).
— Não bloquemos a via e nem vamos. O que sempre fizemos é parar os ônibus na entrada (da Refap), convidar os petroleiros a descer e ficar no movimento com a gente. Infelizmente, a Brigada resolveu tomar ações de forma equivocadas, causando mais transtornos do que deveria — afirmou Costa.
Já comandante-geral da Brigada Militar, coronel Mário Ikeda, afirmou que a corporação está orientada a evitar bloqueios de estradas e permitir que os caminhões com combustíveis circulem pelo Estado.
Como a Refap está com estoques altos, já que os combustíveis não foram entregues por uma semana devido à greve dos caminhoneiros, o Sindipetro afirma que a refinaria tem capacidade de seguir operando mesmo sem a presença dos petroleiros. Conforme o diretor do sindicato Dary Beck Filho, a Refap tem capacidade de operar "normalmente por seis, sete dias" apenas com os funcionários que estão trabalhando.
GaúchaZH contatou a Petrobras, mas a estatal não se pronunciou.
A Refap é dos 32 pontos no país — incluindo todas as refinarias — onde os petroleiros cruzaram os braços, totalizando mais de 10 mil pessoas em 11 Estados. No Rio Grande do Sul, além da refinaria em Canoas, ainda conforme a FUP, há paralisação no Terminal Marítimo Almirante Soares Dutra (Tedut), em Osório, no Terminal de Niterói (Tenit), em Canoas, e no Terminal de Rio Grande, em Rio Grande.
Decisão judicial
Na noite desta terça-feira (29), a ministra Maria de Assis Calsing, do Tribunal Superior do Trabalho (TST), concedeu liminar para impedir o início da greve dos petroleiros, atendendo a um pedido de Advocacia-Geral da União (AGU).
Para a advocacia, a greve, em meio ao quadro de desabastecimento provocado pela paralisação de caminhoneiros, trará prejuízos gravíssimos à sociedade pelo potencial de provocar falta de gás natural, petróleo e seus derivados.
Pela decisão, os sindicatos dos grevistas deverão pagar multa diária de R$ 500 mil em caso de descumprimento e também estão impedidos de travar o trânsito de mercadorias e pessoas nas refinarias.
Segundo a assessoria da FUP, a decisão é "chantagista" e tem um "valor absurdo". No entanto, devido à multa, o jurídico da federação deve avaliar a situação nesta quarta-feira (30) e, após, vai ouvir os petroleiros para saber se querem manter a decisão de ficarem parados até sábado (2).