O fogo que queimou a casa onde Carla Regina Padoan, 30 anos, morava de aluguel com o filho e o marido, em Santa Rosa, começou quando a criança, de sete anos, olhava televisão no quarto. A auxiliar de escritório em uma loja de autopeças estava trabalhando, a uma quadra da residência, e o pai do garoto atendia na loja de assistência técnica da família, no andar térreo do imóvel incendiado. O primeiro a perceber as labaredas foi o menino. Ele ouviu um barulho na sala e se levantou da cama para ver. Quando chegou na porta, viu as chamas tomando conta da sala, da cozinha, do banheiro e se aproximando do seu quarto. Do outro lado da fumaça estava a única porta que dava para a rua.
A primeira reação do menino Richard Padoan Tavares foi tentar salvar Nica, sua caturrita, e Nico, seu cachorrinho, animais de estimação que morreram queimados. Quando tentou resgatar os bichinhos, uma labareda lambeu sua orelha esquerda e parte do cabelo. O menino recuou, passou a mão em uma toalha, a colocou no nariz, subiu na cômoda que fica junto à janela do quarto e começou a gritar por socorro.
Neste momento, já havia se instaurado o pavor na esquina da Travessa República com a Rua Étore Alberto Beltrame, no centro da cidade localizada na região noroeste do Estado. O pai, assustado com o tamanho das chamas, pedia por socorro do Corpo de Bombeiros. Amigos corriam até o emprego de Carla, que chegou quando o filho já havia sido salvo pelo pedreiro Anderson Rodrigues da Silva, 25 anos.
— Fiquei apavorada. Foi tudo muito rápido, ninguém esperava que isso poderia acontecer. A gente toma muito cuidado, tiramos aparelhos das tomadas. Não tem lógica esse fogo, não sabemos como começou. Estamos esperando o laudo da perícia, mas graças a Deus estamos todos bem — diz.
Ela acredita que as chamas tenham se iniciado na garagem, alcançado o teto e se alastrado para a casa, no segundo piso. A assistência técnica da família, onde o marido dela e pai de Richard trabalhava, fica no primeiro andar, perto da garagem, mas não foi atingida pelo fogo. Porém, com o trabalho dos bombeiros para resfriar as paredes, todo o material eletrônico foi molhado. Na residência não restou um móvel inteiro.
— Estamos juntos há 10 anos. Meu marido tem a assistência técnica há três. Trabalhamos muito para juntar nossas coisinhas e agora não sobrou nada.
O casal está tentando distrair Richard para que as lembranças do incêndio surjam com cada vez menos frequência. Nesta quinta-feira (11), assim que ganhou alta do Hospital Vida & Saúde, ele foi levado para a casa de um amiguinho. Os pais se dedicam a resolver coisas como encontrar um imóvel para alugar. Enquanto não acham, estão alojados em residência de amigos. Carla diz que Richard, ao lembrar do fogo, lamenta não ter conseguido salvar os bichinhos.
— Parece que ele teve uma capacidade de raciocínio melhor do que a nossa, porque pegou uma toalha e foi para a janela. Ele contou que viu isso no desenho. "Tapei meu nariz e fui para a janela pegar um arzinho", me contou — recorda Carla.
A mãe tentará arrecadar dinheiro e móveis para recomeçar a vida e também para Anderson, o pedreiro que salvou a vida de seu filho:
— Ele é muito humilde, tem uma filha pequena. A gente está precisando de ajuda, mas quero encontrá-lo para ver o que ele precisa também. Vamos tentar ajudar ele e a família como a gente puder.
Quem quiser fazer doações para auxiliar tanto a família de Carla como a de Anderson, pode fazer depósito bancário na Caixa Econômica Federal, agência 0502, conta corrente 31299-9 em nome de Carla Regina Padoan.
— Eu só tenho a agradecer. É uma dívida eterna com ele.
Ouça entrevista que Anderson Rodrigues da Silva concedeu ao Programa Atualidade, da Rádio Gaúcha: