Foi movido pela curiosidade que o pedreiro Anderson Rodrigues da Silva, 25 anos, largou as ferramentas no chão, saiu da obra e caminhou cerca de 100 metros para ver o incêndio que consumia uma casa de dois andares, no centro de Santa Rosa, noroeste do Estado, na quarta-feira (10), às 14h. De espectador, passou a protagonista ao perceber que por uma das janelas escapavam, misturados à fumaça escura, gritos de socorro de uma criança de sete anos, apavorada pelo calor que já beirava o insuportável.
— Eu cheguei ali e fiquei só olhando, cansado do trabalho. Quando enxerguei o guri, não acreditei e fui cego na janela. Não calculei altura nem nada. Apoiei meu pé em alguma coisa e pulei — relembra.
Quando alcançou as grades de proteção da janela, utilizou o peso de seu corpo para desprendê-la da parede. Os alertas de populares de que cairia de costas na calçada eram em vão. O pedreiro estava focado em salvar a criança, que reclamava das labaredas:
— Quando ele disse 'tio, eu tô queimando', não tive dúvidas que eu arrancaria aquelas grades.
Foi o que fez. Quando a estrutura de ferros despencou, Silva agarrou Richard Tavares Padoan pela camiseta e o alcançou para pessoas que estavam na calçada. Antes de descer, ainda gritou para saber se havia mais pessoas na casa. Sem respostas, pulou de volta e desabou em lágrimas. Um dos motivos do choro foi a lembrança da filha de três anos.
— Quase morri chorando mesmo, porque fiz o que eu queria que fizessem para a minha filha. Era um choro de alegria, felicidade, alívio.
Richard foi levado para o Hospital Vida & Saúde, de onde obteve alta às 8h desta quinta-feira (11), com queimadura em uma das orelhas. O menino chegou a reencontrar Silva depois do incêndio, quando deixou a casa de saúde por poucos minutos, mas logo retornou por medida de precaução.
— Peguei ele no colo, dei um abraço forte e choramos juntos. Eu estava conversando com meus colegas que se eu não tivesse feito o que fiz, seria o fim — conta.
O subcomandante-geral do Corpo de Bombeiros do Estado, coronel Evaldo Rodrigues de Oliveira Júnior, reconhece a coragem e solidariedade do pedreiro, mas não recomenda este tipo de ação pelo risco de queda e de queimaduras. Ele diz que a corporação chegou ao local um minuto e meio após o chamado.
— Reconhecemos o mérito. Foi uma ação muito bacana, mas esse é um trabalho para o Corpo de Bombeiros, que tem equipamentos apropriados — argumentou.
Ouça entrevista que Anderson Rodrigues da Silva deu ao Programa Atualidade, da Rádio Gaúcha: