A análise feita pelo Sistema de Vigilância da Qualidade de Água para Consumo Humano (Siságua) nos poços artesianos e cisternas espalhados pelo Estado mostra que, em muitos municípios, a maioria das fontes de água está poluída. Em alguns, todos os locais testados tinham a bactéria Escherichia Coli (E.Coli), que pode provocar infecção intestinal.
É o caso de Arroio Grande, onde foram feitas medições em cinco poços comunitários. Em Canguçu, a mesma situação: 100% dos três poços avaliados tinham a bactéria. Santana da Boa Vista enfrenta situação idêntica, com contaminação dos quatro poços analisados.
Os três municípios ficam na Metade Sul. A região é de longe a mais atingida pela poluição de fontes alternativas de abastecimento, conforme o Siságua. Do total de medições feitas em 2017 nessa parte do Estado, 35,60% apresentaram a bactéria E.Coli.
O segundo lugar no ranking preocupante cabe ao Centro-Oeste, com 31,80% de contaminação. Seguem-se as regiões Missioneira (21,74%) e Norte (19,09%). Nas demais (Serra, Vales e Metropolitana), o índice não supera 10%.
– Tal variação pode estar relacionada a diferenças na estrutura e na operação de potabilização de água, no número de habitantes e na própria condição de tratamento de esgoto propriamente dito na região. Quanto mais poluído o local de onde a água é captada, mais difícil e caro tratar – analisa o virologista Fernando Spilki, da Universidade Feevale.
O promotor de Justiça Eduardo Viegas, autor de dois livros sobre poluição ambiental e especialista na fiscalização de bacias de rios, salienta que muitos domicílios urbanos e rurais têm poços como fonte única ou alternativa para água potável, sem que isso conste em nenhum sistema de informações. Em outros locais, as próprias municipalidades estimulam a captação de águas subterrâneas para prédios e condomínios.
– Poços clandestinos, não fiscalizados, estão por toda parte: em hotéis, restaurantes... Difícil saber se estão contaminados sem fiscalizar – resume o promotor.
Empresas de saneamento atuam em 327 cidades
Viegas enfatiza que a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) abastece 317 municípios do Estado. Outros 10 têm empresas municipais (como Porto Alegre, São Leopoldo e Pelotas).
Somadas, essas cidades abrigam mais de 10 milhões de pessoas. Outras 170 cidades vivem situação precária: são abastecidos basicamente por poços artesianos ou cacimbas (cerca de 810 mil gaúchos).
– Para piorar, mesmo os 327 com abastecimento estatal contam com milhares de poços clandestinos na área rural, sem avaliação da presença de germes. Mas o consumidor não sabe – diz o promotor.
Segundo Viegas, há falsa ideia de que os poços fornecem água de melhor qualidade:
– Quem mediu coliformes ali? Quando existe laudo, é de anos ou décadas atrás, enquanto a medição deveria ser constante. Companhias de saneamento fazem análise diária de coliformes. É uma imposição da portaria 2914/11, do Ministério da Saúde, que controla potabilidade de água.