Após cerca de um ano e quatro meses de reforma, a população de Caxias do Sul pôde conferir na manhã desta quarta-feira (20) como ficou o chafariz da Praça Dante Alighieri. Ainda que o Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (Samae) não tenha entregue a obra (ela será inaugurada nesta sexta, às 2oh), é possível ver que a borda externa e o fundo da estrutura foram pintados de azul claro e que já há água no interior.
Nas redes sociais, algumas pessoas questionaram a pintura do chafariz, uma vez que se trata de uma obra histórica, inaugurada em 1937 e revitalizada pela primeira vez na década de 1970.
— Eu tenho certeza de que aquilo não pode ter passado pelo Compahc (Conselho Municipal de Patrimônio Histórico e Cultural). É uma heresia, uma completa descaracterização — reclama Cecília Pozza, representante do Patrimônio Cultural no Conselho Municipal de Cultura de Caxias.
O chafariz foi obra do mestre canteiro José Zambon, responsável por centenas de estruturas em pedra em Caxias. As peças da borda central da estrutura, que têm desenhos de cachos de uva e folhas de parreira em alto relevo, permanecem originais.
De acordo com Liliana Henrichs, que era diretora do Departamento de Memória e Patrimônio Cultural da Secretaria Municipal da Cultura em dezembro do ano passado, época de início da obra, a pintura não estava incluída nas modificações.
— A Secretaria do Meio Ambiente mandou um comunicado para o Compahc, dizendo que a obra ia modificar o sistema do chafariz para que não houvesse tanto consumo de água e tivesse uma drenagem melhor, e com mais atrativos, como iluminação. No entanto, não foi mandado projeto. Imaginou-se que era algo mais simples, então na época não se pediu mais informações, o que pode ter sido uma falha nossa — aponta.
Liliana explica que modificações em estruturas com mais de 50 anos tem que passar pelo Compahc, conforme a legislação municipal.
— É de praxe. Existe essa proteção legal, mas nem sempre é respeitada. A praça e o chafariz já sofreram descaracterizações anteriormente. Não sei dizer se o projeto teve alteração, ou por que essa pintura foi colocada. Eu acredito que deveria ter sido mantida a cor normal, de acordo com o piso da praça. Mas não se sabe a justificativa. É uma questão a ser considerada, para ver se não haveria alternativas para manter a característica, com o material existente na praça — defende.
Conforme a ex-diretora, a pintura pode ser questionada pelo Compahc, que pode solicitar explicações ao Executivo.
O diretor-presidente do Samae, Gerson Panarotto, garante que não houve nenhuma reforma nas bordas do chafariz, apenas limpeza e pintura.
— A estrutura era composta somente de argamassa, portanto, se houve descaracterização, ela ocorreu antes disso tudo — comenta.
Apesar de acreditar que não houve falha na reforma, ele ressalta que, caso seja verificada irregularidade, a pintura pode ser facilmente removida.
O Pioneiro não conseguiu, até a publicação desta reportagem, contatar a diretora do Departamento de Memória e Patrimônio Cultural da Secretaria da Cultura, Heloise Salvador, ou a presidente do Compahc, Maristela Guareschi.