Na pacata Porto Xavier, município de 10,7 mil habitantes, a ponte internacional com a Argentina faz parte do imaginário da população, sendo desejada por gerações. Após a aprovação de emenda pelos deputados da bancada gaúcha, os moradores se dividem entre esperançosos e céticos.
— Olha, todo ano prometem a ponte. Nas últimas eleições, já era para este ano. Agora, tem este dinheiro dos deputados. Mas será que vem mesmo? E se começar, vai seguir ou vai parar que nem a ponte do Guaíba? — questiona um jovem, que, por "conhecer todo mundo", prefere não se identificar.
Já o gerente de restaurante Zeno Luis Machry demonstra confiança:
— Mas, Deus me livre. Quero ver essa ponte. Desde que nasci falam dela. Estou com 53 anos. Agora estou achando que finalmente vai sair — diz o comerciante, cujo estabelecimento fica ao lado da rodoviária (ou melhor, "parada de ônibus intermunicipais", porque o antigo concessionário está entre os muitos no Estado que desistiram do negócio e fechou as portas).
Com uma rua principal (a mesma que leva ao porto), uma praça central e algumas quadras com empreendimentos comerciais no entorno, Porto Xavier tem como base econômica uma usina de álcool, o comércio internacional, com cerca de 30 empresas especializadas em importação e exportação, e a agropecuária. Com PIB per capita de R$ 11,7 mil, ocupa a 490ª posição dentro os 497 municípios gaúchos. Os únicos pontos turísticos são a pesca esportiva no Rio Uruguai e o Cerro Pelado.
Entre os empresários locais, a ponte internacional não é considerada garantia de incremento de renda. Na avaliação do presidente da Associação Comercial, Industrial e Serviços Agropecuários (Acisa), Geferson Deutner da Silva, o resultado no município vai depender da localização da obra:
— O medo é que Porto Xavier se torne só um corredor rodoviário, que as pessoas cruzem reto pela ponte para fazer compras em Santa Rosa e Santo Ângelo, que são cidades bem maiores e desenvolvidas — afirma Deutner da Silva, dono de um mercado.
Isso vai ocorrer, na avaliação dele e de outros empresários e políticos, se a ponte for erguida longe do centro do município. Como o Dnit não divulgou o estudo realizado, até agora, existem apenas especulações. As balsas têm horários fixos e limitados, e os comerciantes acabam se beneficiando com a estadia forçada na cidade.
— No verão, meu hotel enche de argentinos que não conseguem pegar a última balsa — exemplifica o gerente de um dos dois únicos estabelecimentos da cidade, Vanderlei Soares da Silva.
Além de torcer para que a travessia seja bem localizada, diferentemente do exemplo sempre citado de São Borja, cuja ponte para a Argentina é distante do centro, o empresariado aposta num ramo que pode chegar em 2018: os free shops. Com lei federal aprovada desde 2012, a previsão é de que as lojas francas comecem a ser instaladas nas cidades escolhidas a partir do começo do ano. Porto Xavier é uma das 10 no Rio Grande do Sul.
— A ponte vai nos dar volume e fluxo 24 horas, mas os free shops vão atrair as pessoas e fazer com que parem aqui. São investimentos que se complementam, mas só a ponte não sei — afirma o presidente da Acisa.