Embora a possibilidade de fechamento dos túneis da BR-101, em Maquiné, tenha sido afastada nesta terça-feira (21), o custo de operação da estrutura — em média, R$ 658 mil por mês — segue despertando curiosidade. Caso fossem fechadas, as passagens subterrâneas aumentariam o trecho Osório-Torres em 11 quilômetros.
ZH visitou os túneis e ouviu especialistas para tentar entender por que o contrato formado com a empresa paulista HHTec vai custar R$ 7,9 milhões até setembro do ano que vem.
Abaixo, listamos algumas explicações de especialistas que podem ajudar a entender os custos envolvidos na manutenção dos túneis.
Estrutura exclusiva
Em outros lugares do Brasil, os túneis fazem parte de um plano de infraestrutura maior — em rodovias, por exemplo, estão dentro do pacote de concessão e, portanto, envolvem pavimentação, pontes, viadutos, entre outros. Em municípios como o Rio de Janeiro, são cuidados pela prefeitura de forma integrada a outras obras viárias.
— Da forma como está, há concentração desnecessária de custos nos túneis de Maquiné. Em São Paulo, por exemplo, a (rodovia) Imigrantes tem um centro de controle de vídeo que monitora a rodovia toda, com 13 túneis — explica presidente do Comitê Brasileiro de Túneis (CBT), Werner Bilfinger.
O contrato com a HHTec vai até setembro do ano que vem. Como a BR-101 está incluída no projeto de concessão das rodovias federais cuja licitação está em fase final, a concessionária que for assumir a estrada — assim como as BRs 290 (freeway), 448 (Rodovia do Parque) e 386 — ficará responsável também pela administração do túnel de Maquiné. A previsão do governo é que a concessionária comece a operar em meados de 2018.
Mão de obra
Como os túneis na BR-101 funcionam 24 horas, todos os dias do ano, as equipes são divididas em três turnos, com 10 profissionais por turma — com isso, cerca de um terço (35,2%) do valor contratado é gasto com mão de obra.
Os profissionais exigidos por contrato envolvem um engenheiro-chefe e outros dois engenheiros para monitorar todos os sistemas, além de funcionários responsáveis pelas 40 câmeras e por acionar sistemas de emergência, um enfermeiro e um motorista por turno, eletricistas e mecânicos para consertos e manutenção.
— Toda vez que precisa colocar pessoal para operar o custo é elevado. Pode ver os pedágios. No caso dos túneis, como funcionam 24 horas, tem adicional noturno, periculosidade, fora a mão de obra especializada — aponta João Hermes Nogueira Junqueira, professor do curso de Engenharia Civil da Unisinos.
O sistema é automatizado — avisa se houver acidente, mede níveis de poluentes do ar e aciona os equipamentos contra incêndio, se necessário —, mas as equipes são responsáveis por realizar atendimentos básicos em caso de acidentes e tomar as medidas rapidamente para evitar riscos.
Manutenção e energia
Outro montante importante (37,7% dos recursos) é destinado à manutenção, que compreende reposição de peças, como lâmpadas — no total, são cerca de 1,5 mil —, e itens básicos, como óleo diesel, consertos, limpeza e outras medidas preventivas.
O contrato, no entanto, não inclui melhorias na pavimentação (asfalto), que fica a cargo do Dnit, e nem socorro mecânico e médico avançado.
A energia consome outra parcela importante (8,6%), devido, principalmente, à necessidade de se manter iluminados os túneis dia e noite, acionar os ventiladores para dispersar fumaça e neblina, e operar as câmeras de monitoramento.
Normas internacionais de segurança
Segundo o supervisor do Dnit na região de Osório, Delmar Pellegrini Filho, os túneis atendem a normas técnicas internacionais de segurança, já que a legislação brasileira ainda carece de regras próprias:
— Nada pode dar errado, porque o túnel é extenso e fechado e qualquer acidente pode matar muita gente. O investimento se justifica em termos de prevenção e segurança.
Cada passagem dos túneis de Maquiné, com pistas duplicadas, tem 1,8 quilômetro de extensão. Bilfinger explica que o tamanho implica diretamente a necessidade de funcionários e de equipamentos de um túnel. Quanto maior, maior a necessidade de ventilação e de hidrantes, por exemplo, essenciais em caso de acidentes:
— Se um caminhão bate e pega fogo lá dentro, para uma pessoa conseguir fugir tem que correr até 900 metros, o que demora cerca de 10 minutos. Com fumaça, ela não consegue atravessar e morre — aponta Bilfinger.
Guardando as devidas proporções, o engenheiro lembra do incêndio do túnel de Mont Blanc, estrutura de 11 quilômetros ligando França e Itália, que causou a morte de 39 pessoas em 1999.
Comparação difícil
Há dificuldade em comparar o custo dos túneis gaúchos com outros no país, já que os únicos quatro com manutenção terceirizada pelo Dnit ficam na BR-101 Sul. Os outros dois são em Santa Catarina e exigem menos de R$ 250 mil por mês de manutenção — ou seja, quase um terço dos túneis de Maquiné.
No entanto, os túneis catarinenses têm características bem distintas dos gaúchos. Tanto o túnel do Morro Agudo quanto o do Morro do Formigão têm apenas um sentido e cerca de metade do tamanho das estruturas gaúchas – medem um quilômetro e 530 metros, respectivamente. Em razão disso, necessitam de metade dos funcionários e consomem menos recursos em peças e manutenção.