As crianças que sofreram queimaduras após incêndio criminoso em uma creche de Janaúba, no interior de Minas Gerais, receberão o auxílio do banco de peles da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Doze crianças seguem internadas e passam por tratamento em Belo Horizonte e Montes Claros.
A expectativa é de que as peles sejam enviadas para Minas Gerais no início da próxima semana. No entanto, o processo dependerá do quadro de saúde das crianças e da demanda do material pelos hospitais que atendem as vítimas. Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), Luciano Chaves, o foco do atendimento agora é o tratamento cirúrgico agudo para manter as crianças vivas. Em seguida, com a melhora do quadro, as peles serão utilizadas como "curativo biológico".
— É uma pele humana que funciona como curativo biológico para diminuir a perda de eletrólitos, sódio, potássio, e reduzir a infecção na superfície da queimadura — diz Chaves, explicando que a pele é colocada sobre a superfície queimada do corpo das vítimas. — Essas crianças estão com áreas de queimadura grandes. Retirar pele delas mesmas para fazer auto-enxerto iria traumatizar uma área doadora. Como são crianças, a área doadora também é restrita.
Chaves está em Belo Horizonte e coordena uma força-tarefa para atender as vítimas do incêndio provocado pelo segurança da creche municipal de Janaúba. Damião Soares dos Santos, 50 anos, foi à escola na manhã de quinta-feira (5) para entregar um atestado médico depois de ser afastado, em setembro, alegando problemas de saúde. Santos teria jogado material inflamável nas crianças e ateado fogo. Em seguida, o vigia teria posto fogo ao próprio corpo. Ele chegou a ser levado para o Hospital Regional de Janaúba, mas morreu horas depois.
O presidente da SBCP estima que as peles enviadas pela Santa Casa de Porto Alegre poderão atender até 15 vítimas. Segundo Chaves, cinco crianças em situação grave e outra em situação gravíssima estão internadas na Santa Casa de Montes Claros. Em Belo Horizonte, seis crianças em estado grave recebem atendimento na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital João XXIII. Ainda há três pacientes adultos que estão sendo tratados em Janaúba e que deverão ser transferidos para Montes Claros.
O coordenador do banco de peles da Santa Casa de Porto Alegre, Eduardo Chem, explica que os médicos deverão remover a pele queimada para substituir pelo material preparado para cirurgia. O processo, entretanto, só ocorrerá quando as crianças tiverem condições.
— Temos um estoque razoavelmente grande (de peles) nessa semana e deixamos tudo organizado para enviar para as crianças. Assim que elas estiverem melhor e suportarem uma cirurgia, (os médicos) vão fazer o transplante de pele — disse Chem, explicando que o procedimento cirúrgico envolve a retirada de necrose e a reconstrução do tecido.
O banco de peles da Santa Casa de Porto Alegre tem 12 anos e é o mais antigo do país. O estoque responde por cerca de 70% dos transplantes de pele no Brasil. Outros bancos de peles existem em São Paulo, Curitiba e no Rio de Janeiro.
Os estoques são sustentados pela retirada de partes de tecidos de doadores de órgãos. Podem doar pele os pacientes mortos que tiveram morte cerebral ou parada cardiorrespiratória com parada cardíaca já detectadas pelos médicos.