A Polícia Federal (PF) deflagrou nesta quarta-feira (30) a Operação Cancela Livre, que apura possíveis fraudes e desvio de recursos públicos, que pode chegar a R$ 100 milhões, na execução da obra da quarta faixa da BR-290 (freeway), no trecho entre Porto Alegre e Gravataí.
A investigação foi feita em parceria com o Tribunal de Contas da União (TCU). Policiais fazem buscas nos estados do Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo.
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Em Porto Alegre, a sede da Triunfo Concepa é um dos alvos da operação. São cumpridos 14 mandados de busca e apreensão em Porto Alegre, Eldorado do Sul, Santo Antônio da Patrulha, Cachoeirinha, Canoas, Curitiba e São Paulo. As investigações foram conduzidas pela Delegacia de Repressão a Corrupção e Crimes Financeiros da PF (Delecor).
Conforme as investigações, a obra teria sido custeada com recursos da União, sem prévia licitação, tendo sido constatados indícios de superfaturamento de preços e pagamento por serviços não executados, fatos que constituiriam desvios de recursos públicos.
Também foram identificados indícios de subcontratação de empresas de fachada que teriam recebido milhões de reais sem a correspondente prestação dos serviços. A apuração indica que do custo total das obras, que é de R$ 241 milhões, cerca de R$ 100 milhões corresponderiam ao superfaturamento.
Segundo o delegado Alexandre Isbarrola, as empresas investigadas receberam pela execução dos mesmos serviços, como transporte de material e remoção do cabeamento de fibra ótica. Além disso, obras previstas não foram realizadas como, por exemplo, uma alça de acesso à Avenida Ernesto Neugebauer.
– Há empresas que não teriam porte nem seriam dedicadas a prestar determinados serviços, e receberam por algo que não teriam executado em valores na ordem de milhões de reais. Todas essas questões constituem indícios de desvio de recursos públicos – afirma o delegado.
Ainda de acordo com as investigações, algumas empresas seriam de fachada e poderiam ter ligação com funcionários e ex-funcionários da Triunfo. Essas pessoas estão sendo investigadas.
A Concepa também recebeu valores que seriam destinados para pagamento de Imposto de Renda, Imposto Sobre Serviços (ISS) e Contribuição Social, mas, pelo caráter do contrato, estes tributos não foram cobrados.
A Polícia Federal irá investigar também onde o dinheiro do superfaturamento foi parar. Não foi encontrado até agora algum envolvimento com agente público.
O nome da operação – Cancela Livre – é uma referência à norma da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) sobre a obrigatoriedade de as concessionárias liberarem as cancelas quando as filas atingem o limite de 300 metros ou 10 minutos de espera. Essa norma muitas vezes não é conhecida pelos usuários ou não é cumprida pelas concessionárias.
Em nota, a Concepa informa que "forneceu todas as informações solicitadas e continuará a cooperar com as autoridades competentes a fim de esclarecer integralmente os fatos".
A obra
A construção da quarta faixa da freeway, entre Porto Alegre e Gravataí, começou a ser realizada em maio de 2014. As obras foram concluídas em dezembro de 2015.
Como as melhorias não estavam previstas em contrato, a conta poderia ter sido paga de duas formas: recursos transferidos pelo governo federal ou extensão do prazo de concessão até que houvesse o reequilíbrio do investimento.
* Colaborou Jocimar Farina