Sobreviventes do naufrágio de uma embarcação próximo à Ilha de Itaparica, na Bahia, relataram momentos de desespero enquanto o barco – que transportava mais de 120 pessoas – afundava na manhã desta quinta-feira, 24. Pelo menos 18 pessoas morreram – entre elas um bebê de cerca de um ano.
A administradora de empresas Meire Reis, de 53 anos, havia assistido, na noite anterior, às notícias do naufrágio no Pará, que deixou ao menos 21 mortos na madrugada desta quarta.
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– Eu conversei com meu marido ainda ontem (quarta, 23) à noite sobre o acidente com o barco no Pará. Estava triste e ele me falou que na hora do desastre é bom mergulhar e ir para longe – contou ela, que mora na Ilha de Vera Cruz e trabalha em Salvador.
– Pego a barca diariamente. Parece que pressentia algo ruim.
A dica do marido e a conversa na noite anterior salvaram a vida de Meire. Como de costume, estava no atracadouro da Ilha de Vera Cruz para seguir viagem a Salvador. A embarcação, que estava programada para sair no horário, era a Cavalo Marinho I.
– Não quis chegar atrasada ao trabalho e entrei. Mas pensei em desistir. É uma embarcação antiga, a menor delas. Roda há pelo menos uns 40 anos. Já lançaram a Cavalo Marinho II, III com capacidade maior. Esta só pega 129 pessoas mais a tripulação com quatro – afirmou Meire.
Ela recorda emocionada na frente do Hospital Geral do Estado (HGE), já após receber alta e acompanhada da filha Isabel, que reside em Salvador, e de amigos, que o desespero foi grande na hora do acidente.
– Chovia e ventava, então todos os passageiros resolveram ir para o lado oposto à chuva. O lado esquerdo ficou sem peso, por isso o barco virou.
No instante em que o barco naufragou, ela diz que olhou para o teto a fim de pegar os coletes que estavam amarrados e com um nó difícil de desfazer. Meire não sabe nadar. Então, a administradora bateu com a cabeça no teto do barco, e as pessoas começaram a cair umas por cima das outras.
– Foi um desespero total. Imagina, no mar e eu não sei nadar. Lembrei da conversa com meu marido e mergulhei e fui me distanciado do local onde havia desespero. Nisso, me deparei com um bote e me segurei nele. O socorro demorou a chegar. Eu olhava e via muitos corpos no mar. Tinha criança lá. Que tragédia – lembrou Meire.
Ela foi salva por um voluntário que andava de lancha nas proximidades.
– O socorro oficial chegou duas horas depois. Essa lancha ainda resgatou uma criança de um ano. Mas não sobreviveu, pelo que soubemos.
O estudante universitário Felipe Almada, de 27 anos, amigo da família, conta que correu junto com a filha de Meire para o terminal marítimo do Comércio assim que souberam do acidente.
– Foi muita sorte. Quando chegamos lá, a Meire chegou com vida salva por esta lancha e viemos todos para o HGE – diz Almada.
Em seguida, os órgão oficiais proibiram a travessia de lanchas particulares, a fim de resgatar as pessoas por meio de equipes treinadas. Ao chegar no HGE, Almada conta que estava tudo preparado para receber os acidentados.
– Nunca esperávamos o atendimento neste nível. Foi efetivo e de primeiro mundo. Agradecemos demais ao atendimento.
Segundo o universitário, na rua onde Meire mora, uma família perdeu três pessoas no acidente: a mãe, a filha e a neta.
Meire teve hematomas na cabeça provocados pelas batidas no teto da embarcação. Foi medicada e teve alta antes das 14h. Um outro paciente permanecia no hospital até as 17h.
O sonoplasta Edvaldo Santos, de 51 anos, também conseguiu se salvar e reclamou da demora das equipes de salvamento.
– Um absurdo. Levaram duas horas para chegar e estávamos próximos ao atracadouro.
Embarcação era regular
De acordo com a Associação de Transportes Marítimos da Bahia (Astramab), a embarcação correspondia às exigências legais para fazer o transporte de passageiros e não estava superlotada. A Agência de Regularização de Serviços Públicos de Energia, Transportes e comunicação da Bahia (Agerba), informou que a embarcação estava totalmente regularizada. O barco foi encaminhado para perícia.