"À Polícia Civil de São Francisco do Sul não resta dúvida de que o padre é responsável pelos crimes pelos quais está sendo investigado neste inquérito policial."
Essa afirmação é do delegado Marcel Araújo de Oliveira, que detalhou ontem o indiciamento do padre Marcos Roberto Ferreira pelo crime de estupro de vulnerável contra quatro crianças e adolescentes, com idades entre 12 e 17 anos, de São Francisco do Sul. A conclusão está no inquérito policial que investigou suspeitas de abusos cometidos pelo padre nas casas paroquiais nas quais ele era pároco, em São Francisco e Joinville. Ele está preso desde o dia 9 de junho e está afastado das funções sacerdotais.
Concluído na sexta-feira, o documento traz o resultado de investigações que começaram no final de maio, quando familiares dos menores fizeram uma denúncia contra o padre. Finalizado na última sexta-feira, o inquérito foi encaminhado ao Ministério Público de Santa Catarina (MPSC).
Com o envio, a 2ª Promotoria de Justiça de São Francisco do Sul deve apreciar nos próximos dias uma representação da Polícia Civil para que a prisão temporária do padre seja convertida em preventiva. Na prática, caso seja decretada, ele permanece preso na Unidade Prisional Avançada (UPA) da cidade até o fim do processo ou até que o juiz decida revogar a prisão.
– A polícia aguarda apenas que o Judiciário se manifeste, em princípio, pela conversão das prisões. Pelo que foi encaminhado ao MP e ao Poder Judiciário, nós não temos muita possibilidade diferente do processamento regular e eventual condenação do padre pelo crime de estupro de vulnerável contra pelo menos essas quatro crianças – afirmou o delegado.
No documento, que reúne mais de cem páginas, estão contidas informações de movimentações em rede social confirmando a influência dele na comunidade, além de relatórios com depoimentos das vítimas e seus familiares. Há ainda as manifestações de outras 15 testemunhas, entre funcionários das paróquias e pessoas que tinham contato com a rotina do padre junto às crianças.
– Eles vieram aos autos para relatarem algumas situações, algumas suspeitas e outras até com comprovação, fortalecendo aquilo que a gente já entendia, que o padre Marcos deve, sim, ser responsabilizado, julgado e, eventualmente, condenado pelos crimes que ele cometeu – apontou Marcel.
Segundo a polícia, de todas as testemunhas ouvidas, apenas uma delas afirmou que “não via maldade na relação do padre com as crianças”. Uma das testemunhas, porém, chegou a dizer que viu o padre tocar em partes íntimas de um garoto de 12 anos, mas que não contou o fato por acreditar que ninguém iria acreditar nela.
Conforme consta no inquérito, uma das testemunhas disse à polícia que, “em certa ocasião, foi até a casa do padre e percebeu que havia um menino lá e que essa criança gritava para a depoente ‘me tira daqui’”. A testemunha relatou ainda que o menino estava preso na casa do padre enquanto o pároco estava em uma reunião na igreja.
Fim da investigação traz alívio, diz delegado
Para a Polícia Civil, o fato de as testemunhas não terem ligação com as famílias que fizeram a denúncia fortalece a convicção da polícia de que o padre cometeu o crime de estupro de vulnerável. A condenação para esse tipo de crime varia de oito a 15 anos de reclusão.
O inquérito foi finalizado mesmo sem apresentação do laudo pericial feito no celular do padre. Segundo Marcel Oliveira, o Instituto-geral de Perícias (IGP) de Joinville não encaminhou o resultado, mas informalmente a polícia recebeu a informação de que “os dados extraídos do celular não tinham nenhuma informação que fosse relevante para o inquérito policial”. A conclusão, para a polícia, traz alívio para as vítimas.
– O fim da investigação e o indiciamento do padre trazem um pouco de alívio para as vítimas e para aquelas pessoas da comunidade que sabem pelo que essas vítimas estão passando. Para a PC, é uma vitória nós podermos concluir um inquérito como este e tentar trazer à Justiça quem cometeu o crime e um pouco de tranquilidade às vidas das vítimas que tiveram essa marca terrível na sua história – concluiu Marcel.
A reportagem procurou por Karlo Honotório, advogado do padre e, segundo ele, o 'padre Marcos exerceu o direito de se manter em silêncio até a apresentação perante o juízo'.