Paulo Sant'Ana, o mais conhecido e popular jornalista do Rio Grande do Sul, deixa um legado único, fruto de uma mente inquieta, de inspirações surpreendentes e de uma postura altaneira em busca de atender sempre a seu vasto público.
Sua enorme sensibilidade e capacidade de trabalho o tornaram um protagonista insubstituível nas últimas quatro décadas em nosso Estado. Foi graças a seu talento e incansável disposição para escrever e atuar simultaneamente no rádio e na TV que incontáveis problemas foram apontados e corrigidos ao longo da história recente do Estado. Sant`Ana, para orgulho nosso, foi um pioneiro jornalista multimídia, um ser profundamente criativo e um expoente do jornalismo de qualidade propagado pelos veículos da RBS.
Governantes de todos os campos ideológicos o respeitavam não só devido à sua imensa popularidade e audiência. Sant'Ana estava acima de partidos, mas tinha o condão de representar grande parte da opinião pública. Políticos e autoridades sabiam que ele interpretava e ecoava como ninguém a voz das ruas. Essa foi uma de suas grandes sabedorias: identificar os anseios e as esperanças populares, traduzi-los para a linguagem de comunicação e servir de elo entre o povo e poderes.
Muito antes das redes sociais, Sant'Ana captava o que ia pela alma dos gaúchos, antecipava-se ao que seria tema de amplos debates - do futebol a casos de amor e desamor, mas também injustiças, inconformidades, disputas pessoais e políticas. Sem concessões ao populismo e ideias fáceis, expressava seus pontos de vista com destemor, não raro evocando reações duras. Mas era, acima de tudo, respeitado por seu comportamento ético e capacidade de rever conceitos quando se equivocava.
Sua independência era constatada no dia a dia. Não raro, esse cronista da alma gaúcha contrariava as opiniões da própria empresa na qual começou sua vida profissional e fez carreira. Um dos muitos exemplos é o de quando se posicionou frontalmente contrário à realização da Copa do Mundo no Brasil.
Com um olhar muita vezes cosmopolita, Sant'Ana poderia ter sido um grande comunicador nacional, mas seu vínculo telúrico, enraizado até o fundo do coração, era com as coisas do Rio Grande e de Porto Alegre.
Sua atuação incansável por tantas décadas impulsionou o esporte, as relações entre as pessoas, as conversas sociais, a gastronomia, a música, a literatura, as manifestações artísticas e culturais em geral, a política e o desenvolvimento do Estado e da cidade em que nasceu.
Esse é um momento de dor para familiares, amigos, colegas e pessoas de seu convívio. Mas é também o momento de unir os gaúchos em reverência a sua imagem e seu legado.
O Rio Grande do Sul, Porto Alegre, a RBS e, principalmente, seu público têm muito a agradecer ao maior de seus colunistas. Muito obrigado, Paulo Sant'Ana.
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