O 12º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo destinou, na manhã desta sexta-feira (30), seu espaço mais nobre para o painel do Grupo de Investigação (GDI). No auditório do campus Vila Olímpia da Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, os jornalistas do Grupo RBS apresentaram as principais reportagens da equipe, revelaram bastidores das apurações e discutiram a importância desse tipo de reportagem.
– A investigação não é só essencial para o negócio, mas também para garantirmos um jornalismo de qualidade, fundamental para a democracia – defendeu o editor do GDI, Carlos Etchichury.
Leia reportagens do GDI
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Nesse esforço para levar informações de relevância ao público, a equipe assumiu outros compromissos além da apuração minuciosa de boas pautas. Etchichury enfatizou para a plateia que as reportagens do GDI têm a intenção de impactar no cotidiano dos gaúchos ao provocar autoridades a buscarem soluções para problemas e corrigirem irregularidades.
– Temos uma grande preocupação com a transformação. A gente acompanha o assunto mesmo depois da publicação para cobrar mudanças – explicou o editor.
Mesmo com apenas seis meses de existência, o grupo já coleciona uma série de resultados. A reportagem de Giovani Grizotti sobre o golpe para tirar pontos da carteira de motorista, exibida em fevereiro, fez com que o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) unificasse o sistema de pontuação no país. As matérias de José Luís Costa sobre o homem da faculdade de papel, que retrataram o advogado porto-alegrense responsável por falsificar diplomas, motivaram promotores e procuradores a abrirem investigação. Outro caso é a série Perigo no Prato, que revelou o uso inadequado de agrotóxicos em produtos hortigranjeiros consumidos pelos gaúchos. O Ministério Público instaurou inquérito e a Ceasa afastou produtores irregulares.
Esse conjunto de reportagens exemplifica uma inovação do GDI: a integração entre diferentes veículos. Com profissionais de Zero Hora, Diário Gaúcho, Rádio Gaúcha e RBS TV, a equipe fez fotos, vídeos, textos e áudios, assegurando a veiculação do material em todas as plataformas e ampliando a repercussão das reportagens.
– Essa série usou todas as técnicas de investigação. Recorremos à Lei de Acesso à Informação, campana, infiltração para compra de material, câmera oculta e até contratação de teste (para mensurar o uso de defensivos agrícolas nas produtos) – afirmou o repórter Humberto Trezzi, outro palestrante da manhã.
A união de repórteres investigativos em uma única equipe tem uma vantagem adicional, segundo o jornalista Jonas Campos.
– Nas redações, o repórter investigativo costuma ser uma figura solitária, e ele próprio decide quais técnicas usar numa apuração. Dentro do grupo, é discutida a melhor forma de obter uma prova. Quando se trocam experiências, o material se torna fantástico – afirmou.
O painel "Spotlight brasileiro: o Grupo de Investigação RBS" é uma das mais de cem atividades programadas pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). Desde quinta-feira (29), centenas de professores, universitários e jornalistas debatem os desafios da área e conhecem casos de sucesso.
O encontro vai até sábado, com duas atrações principais. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, tratará sobre a Operação Lava-Jato e o combate à corrupção no Brasil. No encerramento do evento, o editor do jornal americano Washington Post, Martin Baron, falará sobre a "relevância do jornalismo investigativo em tempos estranhos". O jornalista coordenou a equipe de investigação Spotlight, que foi implantada pelo Boston Globe e serviu de inspiração para o GDI.