Às 15h desta sexta-feira, sirenes das 17 plantas fabris da Marcopolo espalhadas pelo mundo tocarão para despedir-se do presidente emérito e um dos fundadores da empresa, Paulo Bellini. O gesto marcará o encerramento do velório e o início da cerimônia de cremação do líder empresarial, que levou uma multidão ao Memorial São José para se despedir desde o início da tarde da quinta-feira em Caxias do Sul. Não haverá expediente nas unidades caxienses Ana Rech e Planalto e os funcionários estão convidados a participar da despedida. No velório, o clima de comoção somava-se à sensação de dever cumprido vista por familiares e amigos, que usavam, por diversas vezes, o adjetivo "correto" para descrever o empresário de 90 anos.
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– Meu pai estava muito mais preocupado com as pessoas do que com a mão-de-obra. Não era a matéria-prima que interessava a ele, eram as pessoas. Quem mora em Caxias do Sul sabe bem que o lado humano do meu pai se sobressaía ao empresarial – descreve o filho James.
A popular figura de Bellini era conhecida por gerenciar as fábricas que acumulam mais de 12 mil empregos pelo mundo. No entanto, desde que se afastou do cargo de presidente do Conselho de Administração do grupo, era mais fácil encontrá-lo jogando golfe com os amigos ou desfrutando do merecido descanso em Torres, praia do Litoral Norte gaúcho que o empresário cultivava admiração. O golfe, inclusive, foi o elo que apresentou Bellini ao educador físico Jailson Eduardo Duarte, conhecido como Duda.
Na verdade, Duda era ainda criança quando passou a frequentar diariamente a casa de Bellini e receber o suporte necessário para alavancar sua carreira profissional. Duda cresceu junto à família e recebeu aporte para faculdade e outros incentivos que teria de maneira mais difícil em seu lar de origem. Bellini deu esta ajuda ao rapaz sem esperar nada em troca:
– Ele foi meu mentor, era como um pai. Seu Bellini me ensinou tudo que eu sei na minha vida. Ele era justo, correto, detalhista e organizado_ descreve Duda.
A enfermeira Elaine Horn trabalha na casa da família Bellini há quase 10 anos. Ela passou a ser responsável por cuidar do estado de saúde do empresário em 2008, quando foi submetido a uma cirurgia cardíaca que exigia mais cuidados. Seu Bellini passou a frequentar o ambiente hospitalar com mais frequência desde abril. O convívio agradável e cuidadoso entre a enfermeira e o empresário fará falta para Elaine:
– Ele tinha muita preocupação com os idosos e com talentos novos na empresa. Era honesto e durante sua trajetória, foi sempre uma alma generosa e grandiosa com os que se aproximavam dele.
Bellini "fazia acontecer"
"Fazer acontecer" era a soma de verbos mais usada no vocabulário de Paulo Bellini no convívio empresarial, adiantam os colegas e amigos de Marcopolo, Carlos Zignani e Paulo Corso. Característica de um líder que se preocupava com a equipe, ele procurava conhecer boa parte dos funcionários pelo nome e tinha um trato carinhoso entre eles.
– Ele sempre dava um abraço de carinho, procurava cumprimentar as pessoas em dias especiais, e sempre esteve no chão de fábrica. Ele falava muito que a empresa existe porque existem pessoas. Ele era uma pessoa emocionada. A religião dele era Marcopolo – descreve Corso, amigo e diretor da Marcopolo, com mais de 40 anos de casa.
Era difícil trabalhar próximo de Bellini e não se tornar amigo dele - justamente por ser um líder que dava oportunidades de crescimento, segundo descreve o amigo José Albino Cousseau, que trabalhou por mais de 40 anos na empresa. Além disso, por preferir um clima ameno e tranquilo no ambiente profissional, era tido como um cara agregador e pacífico:
– Ele trabalhava sempre nos bastidores para que não houvesse conflitos. O positivismo e o entusiasmo dele facilitavam nosso trabalho – define Carlos Zignani, diretor aposentado pela Marcopolo.