Mesmo sem trocar uma só palavra com o prefeito de Caxias do Sul, Daniel Guerra (PRB), desde o dia 6 de março – data em que anunciou que renunciaria ao cargo –, o vice-prefeito, Ricardo Fabris de Abreu (ex-PRB, hoje sem partido), vai tentar ser o mediador de um dos impasses mais graves da gestão de Guerra: a greve dos médicos servidores do Sistema Único de Saúde (SUS). Fabris convocou uma reunião para a próxima quarta-feira (31) para tratar dos principais temas da paralisação, que já dura 44 dias e não tem previsão de término.
Em comunicado oficial, Fabris convidou o secretário municipal da Saúde, Fernando Vivian, o representante da comissão de greve, André Pormann, a promotoria da Fazenda Pública e os vereadores que integram a Comissão de Saúde para um encontro no seu gabinete. Apesar de ter liminar da Justiça que o mantém no cargo, o vice-prefeito disse que tem lhe sido negado o acesso a documentos e informações do Executivo.
Leia mais:
36 dias e 15 mil consultas a menos depois, para onde vai a greve?
Médicos de Caxias do Sul querem aumento de 285% por hora
Secretário diz que médicos "nunca foram tão menosprezados"
"Convido-os a comparecer (...) para tratar de distinções legais que julgo necessárias entre 'ponto', 'registro do ponto', 'jornada', 'controle de jornada' e 'efetividade', especialmente no caso dos médicos servidores municipais. (...) O debate instruirá proposição que encaminharei ao sr. prefeito municipal", disse Fabris.
A prefeitura finaliza uma ação para recorrer da liminar que declarou o movimento legítimo, assinada em 8 de maio pela desembargadora Matilde Chabar Maia, da 3ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça (TJ-RS). Já a comissão que organiza a paralisação garante que parte da categoria seguirá trabalhando em ritmo reduzido e com horários alternados até que Guerra aceite negociar um aumento salarial em termos próximos do que pedem os médicos.
O Executivo, porém, continua amparado em decisão do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 4ª Região, que designou o Sindicato dos Servidores Municipais (Sindiserv) como o representante da classe nas negociações. O médico André Pormann vê "boa intenção" do vice-prefeito em encontrar uma solução que agrade a ambos os lados:
– Acredito na boa intenção dele de propor alguma discussão. Sobre a questão política do rompimento com o prefeito, não vou entrar no mérito. Estando bem ou mal, ele faz parte do governo e compõe o governo.
Na semana passada, o Executivo anunciou que descontará novamente, da folha salarial dos médicos, faltas "injustificadas" constatadas durante o mês de abril. Desta vez, o valor a ser subtraído dos vencimentos será de R$ 363.197,95, referentes a 1.355 ausências de 91 servidores em razão da greve. No mês passado, outros R$ 409.787,11 foram descontados em decorrência as faltas do mês de março.
O Pioneiro entrou em contato com o vice-prefeito de Caxias do Sul, mas ainda não obteve retorno. Por meio de sua assessoria, o secretário de Saúde disse que não estará presente, pois o Executivo não reconhece a atuação de Fabris como vice-prefeito.