O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, general Sérgio Etchegoyen, classificou como "deplorável" a atuação de alguns policiais que, durante as manifestações da última quarta-feira em Brasília, dispararam tiros com armas de fogo contra os manifestantes.
Em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, o general avaliou a atuação e as decisões do governo durante os protestos, e defendeu como necessária a convocação das Forças Armadas. Confira os principais trechos da entrevista:
Passadas quase 48 horas do episódio, o governo agora afasta qualquer possibilidade de recorrer mais uma vez a esse advento (uso das Forças Armadas) para garantir a lei e a ordem em Brasília?
Neste momento, Brasília está tranquila, nós imaginamos que as coisas vão continuar tranquilas. Eu acho que a sociedade ficou assustada, impressionada, impactada demais com tudo que aconteceu e esperamos que isso sirva como uma sinalização da sociedade para quem acha que é democrático, legítimo esse tipo de coisa em uma manifestação que vinha pacífica, vinha bem. Acho que não, mas não tenho dúvida que em uma situação extrema, o presidente exerceria sua autoridade.
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Não há, na avaliação do Governo, qualquer dúvida de que a decisão foi acertada?
A extensão dos danos, as imagens, são justificativas fortíssimas para a decisão que foi tomada. E não é só isso, a razão, o gatilho que disparou a decisão foi o momento em que atearam fogo ao Ministério da Agricultura, porque haviam pessoas lá dentro. O que eu queria aproveitar para dizer é que, às 14h30min daquele dia, nós disparamos uma mensagem para todos os Ministérios sugerindo que liberassem seus servidores porque ainda havia tempo e ainda havia condições nas vias laterais para que as pessoas pudessem deixar a Esplanada dos Ministérios. Pelas 15h e pouco isso tinha deteriorado tremendamente. A situação já não permitia e daí tocaram fogo no Ministério. Então, as opções eram simples: ou dormir pensando em eventuais perdas políticas por uma decisão dramática como essa ou dormir eventualmente contando os cadáveres que estavam dentro do Ministério.
Houve falha da Inteligência em não ter identificado antes esse risco, ou da Polícia Militar de Brasília, que deixou chegar a esse ponto?
Da Inteligência não houve, porque previu a participação dessas pessoas, acompanhou-as, e elas, em determinado momento, investiram contra um dispositivo da Polícia Militar que não conseguiu contê-las. Agora, que eles viriam nós sabíamos e estávamos acompanhando.
Sabiam que viriam pessoas com esse grau de violência?
Sim, tínhamos indicações do que os black blocks tentariam fazer.
O governo foi muito criticado por ter tomado essa decisão, por mais que o senhor justifique, em razão de ter lançado mão das Forças Armadas naquele momento. Há previsão de outros protestos. A ideia de usar desse mesmo mecanismo continua dentro do Palácio do Planalto?
A ideia que prevalece, neste momento, é de reforçar a Força Nacional de Segurança Pública. Essa é a ideia, mas ela também tem limites. O que contamos é que as pessoas entendam que o governo não vê, e nenhum de nós vê, como ilegítimas as manifestações. Muito pelo contrário. Reuniram-se em Brasília 950 ônibus vindos de todo o Brasil. Não foram impedidos de se concentrar, de passar a noite, de marchar sobre a Esplanada. Não houve nenhuma repressão. Houve um bloqueio da Polícia Militar para revistar as pessoas e recolher eventuais armas ou objetos que pudessem servir como armas e descambar para a violência, por razões óbvias. A ilegitimidade começou quando grupos violentos atacaram e passaram a fazer o que nós vimos.
Houve também uma reação desproporcional e meio destemperada de alguns policias militares do Distrito Federal com armas em punho atirando contra os vândalos. Como vocês avaliam essa atuação?
A Utilização de armas de fogo pela polícia é uma coisa deplorável e fora de qualquer protocolo de controle de manifestação, distúrbios e coisas dessa natureza. Isso não faz sentido, tanto que os policiais foram afastados, a polícia abriu inquérito. Agora é o procedimento policial judiciário. Nunca tinha acontecido nas manifestações em Brasília uma coisa dessa natureza. Aconteceu desta vez, lamentavelmente, mas não está nas opções nem no rol das ações a serem realizadas em eventos dessa natureza.