No comando do país entre 1995 e 2003 e voltando a ocupar posição de destaque no cenário político brasileiro desde o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), o PSDB foi deslocado para o centro do furacão político que abala o governo de Michel Temer (PMDB) desde a divulgação das delações da JBS.
Mesmo com as acusações de corrupção contra seu ex-presidente, Aécio Neves, que se afastou do posto para defender-se na Lava-Jato, o partido é considerado o fiel da balança tanto para a permanência do presidente no poder quanto para a aprovação das reformas trabalhistas e da Previdência, visto que tem a segunda maior bancada do Senado e a terceira maior da Câmara. No que depender do líder tucano no Senado, o catarinense Paulo Bauer, essa fidelidade não deve ser abalada.
Em entrevista ao Diário Catarinense, ele comenta os rumos do PSDB nacional e estadual, afasta qualquer apoio à proposta de eleições diretas no caso de renúncia ou cassação de Temer e diz que "anda de cabeça erguida" em relação à citação do seu próprio nome em planilhas da JBS, que seriam de propinas dissimuladas de doações oficias, conforme os delatores.
Confira a entrevista completa:
O PSDB é considerado peça fundamental no apoio a Michel Temer. O partido permanece na base de apoio do governo?
O PSDB tem responsabilidade primeiro com o país e essa responsabilidade nos dá a missão, a incumbência de prosseguir na votação, na apreciação dos projetos que são fundamentais para a retomada do crescimento econômico, da geração de emprego, na redução da taxa de juros. Para que tenhamos resgatado no Brasil a condição de desenvolvimento que o governo do PT deixou sucumbir. Portanto, nossa postura primeira não é de ser governo, estar no governo ou não, mas sim fazer o nosso papel em função do país. Hoje temos um governo atingido por uma delação de um gesto do presidente da República, não tem relação com corrupção de órgãos públicos. É uma conversa e uma gravação, questionada inclusive tecnicamente, feita por um criminoso. Entendemos que a delação atinge o próprio presidente, deixa desconfortável e isso gera uma crise até política, porque a oposição no Congresso ganha força em termos de volume de voz. Por isso diria que nós temos que separar uma coisa da outra. Não há como o PSDB deixar de votar reformas e projetos por conta de delações. Delações devem ser julgadas no ambiente propício, que é o Judiciário.
O senhor avalia que a renúncia do presidente Temer seria a melhor saída?
O presidente tem agido com muita habilidade e serenidade, principalmente. Fazendo sua defesa, obviamente já anunciando algumas posições e intenções, como a de que não renunciará, que quer ver as reformas andando e que questionará a verdade das gravações. A ele não cabe outro papel. Ele não pode se mostrar abatido por essas denúncias ou renunciar por elas terem aparecido. Não podemos fazer julgamento antes que o presidente faça sua própria defesa.
Nesse contexto, a situação do senador Aécio Neves é semelhante?
Ele também foi denunciado, vai fazer uso de todos os recursos legais pra se defender e a Justiça vai ter que decidir se está certo ou errado. Não se pode e não se deve, numa fase tão crítica e difícil como está vivendo o Brasil, julgar pela simples denúncia. É preciso deixar que as pessoas se defendam. O Lula tem que se defender, a Dilma, todos têm que se defender.
Independentemente das conclusões da Justiça, o senador Aécio ainda tem futuro político?
O mandato de senador vai até 31 de janeiro de 2019. Não sei em quanto tempo a Justiça julgará os fatos. Se for rápido e o julgar culpado, evidente que ele terá dificuldade grande de continuar na política. Mas se for rápido e Aécio for inocentado, tenho certeza que, anunciada sua inocência, ele não precisa ter medo de uma campanha. Os opositores ficarão sem argumentos e o senador terá que buscar apoio junto aos seus eleitores para voltar à cena política.
E dentro do PSDB, qual a força que ele manterá?
O PSDB é um partido muito grande. Houve o problema com o Aécio e imediatamente o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) assumiu a presidência do partido. A vida continua. Com FHC, com Dória, com Paulo Bauer, Tasso, Serra. Nosso partido não depende de uma única pessoa. É um conjunto de lideranças.
Aproveitando que o senhor citou o prefeito de São Paulo, João Dória, como analisa esse destaque que ele vem ganhando desde que assumiu?
Duas situações de destaque envolvem o Dória. Primeiro a campanha eleitoral dele foi ousada e apresentou propostas muito identificadas com o eleitor de SP. Segundo, ele mostrou ser um gestor muito competente e alguém que tem um estilo que agrada ao povo, que agrada a todos.
Ele já é um presidenciável tucano?
Todos que estão no PSDB e que têm uma notoriedade, um sucesso na atividade política, eleitoral ou parlamentar, se tornam candidatos naturais. Geraldo Alckmin (governador de SP), Dória, são candidatos, mas não temos só esses dois. Temos Nelson Marchezan (prefeito de Porto Alegre), Beto Richa (governador do Paraná), Marconi Perillo (governador de Goiás) são alguns outros. Meu partido tem grandes nomes e com certeza teremos candidato. Pode até vir a ser o Aécio, se tiver a inocência confirmada. E só não temos o FHC porque ele não quer mais concorrer.
Em caso de renúncia do presidente Temer ou da cassação da chapa Dilma-Temer no TSE, a eleição direta seria um caminho?
Em momento de crise e de dificuldade política, a única coisa que se deve fazer é seguir a Constituição, obedecer a ela. A Constituição é muito clara: vagando a presidência, se faz eleição indireta através do Congresso Nacional. Ponto. Quem quer eleição direta é esquerda corrupta e ladrona dos cofres públicos. Basta olhar o que fizeram com a Petrobras e com o Brasil no seu período de governo federal. Esses oportunismos na política, são coisas sempre feitas e lembradas por quem não gosta de cumprir a lei. E a lei existe. Está escrita desde 1988.
Em relação às reformas trabalhista e da Previdência, ainda há espaço para melhorias nas propostas?
É preciso aprovar as duas. Se a da Previdência não for feita agora, daqui cinco anos o remédio para consertar será muito mais amargo. Ninguém pode esquecer, por exemplo, que a Grécia demorou a fazer as reformas e quando foi fazê-las, determinou que os aposentados reduzissem o valor da aposentadoria. E aí? Nós queremos isso pro Brasil? E a trabalhista, precisamos da flexibilização das relações do trabalho, para dar maior dinâmica pra nossa economia e geração de empregos.
O PSDB terá candidato próprio à presidência da República em 2018?
Nenhuma aliança é cogitada. Teremos cabeça de chapa. Temos projeto político de ter cabeça de chapa até para justificar e ter uma articulação conduzida no país inteiro com melhores candidaturas também aos governos dos Estados.
E qual deve ser a posição do partido em SC em 2018? A citação do governador Colombo e de outras lideranças do PSD estadual nas delações da JBS mudam alguma coisa?
Não por causa das delações ou da situação do governador, mas o PSDB já vinha dizendo a mais de um ano que teria candidato próprio. Isso é certo. Não sabemos com quem vamos ou quem vai conosco, mas temos esse projeto da cabeça de chapa e isso não foi abandonado. Pelo contrário.
O senhor será pré-candidato ao governo catarinense?
Com certeza absoluta. Fui candidato em 2014 e infelizmente não tivemos segundo turno. Faltaram 43 mil votos para se chegar ao percentual pra ter segundo turno. Somos um partido de grande expressão política e o deputado estadual Marcos Vieira (presidente do PSDB em SC) está conduzindo o partido para cumprir o grande sonho de eleger o governador. Meu nome está à disposição. Desejo ser candidato se o partido me der a oportunidade. Vou fazer a campanha com toda a força.
O senhor foi citado em uma planilha da JBS...
Não vou falar sobre isso. Está na nota oficial. Só tenho uma frase que eu digo sempre, que foi meu pai falecido há quatro anos que me ensinou e eu sigo todos os dias da minha vida: eu ando de cabeça erguida porque nada devo e nada temo. Inclusive com relação a esse assunto. Não tenho nenhum ato ilícito praticado.
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