Em depoimento sigiloso à Justiça Eleitoral, a empresária Mônica Moura definiu a Odebrecht como um "quarto poder" que expandiu sua atuação para todas as áreas no Brasil e pagou "todo mundo". Segundo a delatora, a empreiteira assumiu totalmente o caixa 2 do marketing político da campanha de Dilma Rousseff (PT) à Presidência da República em 2014.
Mônica tratava de questões financeiras e operacionais da campanha, enquanto o marqueteiro João Santana, seu marido, cuidava da parte criativa. Os dois prestaram depoimento na segunda-feira passada no Tribunal Regional Eleitoral da Bahia (TRE-BA) no âmbito da ação que apura se a chapa de Dilma e Michel Temer (PMDB) cometeu abuso de poder político e econômico para se reeleger em 2014.
Relator da ação, o ministro Herman Benjamin viajou a Salvador para acompanhar o depoimento e questionou Mônica se a Odebrecht era uma espécie de "banco informal".
– Vendo hoje o que eu vejo, meio assustada pela amplitude e com a dimensão da coisa que a gente vê aqui, eles pagaram todo mundo. Vejo a Odebrecht como um quarto poder da República, porque eles praticamente estavam em todas as áreas – completou.
Leia mais
Julgamento da chapa Dilma-Temer deve ser retomado em maio
João Santana e Mônica Moura faltaram com a verdade, diz Dilma
Marqueteiros dizem ao TSE que trataram de caixa 2 com Dilma em 2014
Mônica afirmou que chegou a pensar que ela e o marido eram os únicos que recebiam recursos não contabilizados da empreiteira.
– Eu não imaginava que eles pagavam deputado, que eles pagavam campanha de todo mundo. Não sabia. Não tinha nem a mais pífia ideia – disse.
Procurada, a Odebrecht informou que "já reconheceu os seus erros, pediu desculpas públicas, assinou um acordo de leniência com as autoridades brasileira, suíças, americanas e da República Dominicana, e está comprometida a combater e não tolerar a corrupção em quaisquer de suas formas".
Caixa 2
Para Mônica Moura, houve uso de caixa 2 em campanhas eleitorais do ano passado, mesmo com o avanço da Lava-Jato e a proibição de doações de empresas.
– O senhor imagina que agora, em 2016, não teve caixa 2?, disse a Herman.
– É obvio que teve. Mesmo com as medidas tomadas, com um monte de gente presa, houve sim caixa 2, porque não tem como fazer, não existe a possibilidade – declarou.