Em acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR), os ex-marqueteiros do PT João Santana e Mônica Moura afirmaram que a "decisão final" sobre pagamentos de campanhas sempre partiu do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os empresários afirmaram ter ciência de que parte dos valores era paga "por fora", e que Lula e a ex-presidente Dilma Rousseff tinham ciência sobre o esquema. O conteúdo das declarações à PGR foi liberado nesta quinta-feira (11), após o levantamento do sigilo pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF).
Leia mais:
Fachin retira sigilo de delações de casal de marqueteiros
Leia a íntegra da autorização do ministro Fachin
João Santana declarou ao TSE que Dilma sofre de "amnésia moral"
"Apesar de nunca ter participado de discussões finais de preços ou contratos - tarefa de Mônica Moura – João Santana participou dos encaminhamentos iniciais e decisivos com Antonio Palocci. Nestes encontros ficou claro que Lula sabia de todos os detalhes, de todos os pagamentos por fora recebidos pela Pólis, porque Antonio Palocci, então Ministro da Fazenda, sempre alegava que as decisões definitivas dependiam da palavra final do chefe", diz um dos anexos do material encaminhado pela PGR. Clique aqui e leia o trecho do documento.
Responsável por negociar os pagamentos das campanhas eleitorais do PT, Mônica Moura disse que parte do dinheiro por fora (não oficial) seria pago em espécie, e a empresa Odebrecht seria uma das responsáveis pelo pagamento.
"O presidente Luis Inácio Lula da Silva (SIC) sabia do valor total da campanha – tanto o que seria pago oficialmente e o que seria pago por fora –, porque Antonio Palocci relatou a Mônica Moura diversas vezes, durante a negociação, na fase de discussão sobre valores, que tinha que falar com o Lula, porque o valor era alto, e ele não tinha como autorizar sozinho", relatam os procuradores.
Sobra as campanhas de 2010 e 2014, João Santana relatou negociações que teriam sido feitas diretamente com a ex-presidente Dilma e com o ex-chefe de gabinete Giles Azevedo, apontado por ela como uma pessoa de confiança.
"Em um almoço íntimo no Palácio da Alvorada entre Dilma e João Santana, sem testemunhas, a Presidente Dilma Rousseff anunciou ao publicitário que ficasse tranquilo em relação à regularização de qualquer pendência ainda existente, valores recebidos por fora oriundos de caixa dois visto que os oficiais tinham sido pagos para quitação perante a Justiça Eleitoral) e, também com relação a futura campanha de 2014, porque ela (Dilma Rousseff) havia discutido um programa de pagamentos que seria coordenado por uma pessoa de total confiança", relatam os procuradores.
Os marqueteiros também disseram que, em momentos críticos de inadimplência, durante as campanhas, era de Santana a responsabilidade de emitir um "alerta vermelho" a Lula e, depois, a Dilma, ameaçando interromper os trabalhos.
Ainda segundo a PGR, os acordos de delação tiveram por finalidade a recuperação de valores obtidos de forma ilegal. Foram estabelecidas multas de R$ 3 milhões a João Santana, R$ 3 milhões a Mônica Moura e R$ 50 mil a André Santana, ajudante do casal, que também fechou acordo de delação. Além disso, os marqueteiros concordaram em devolver US$ 21,6 milhões, atualmente mantidos em contas na Suíça.
*Rádio Gaúcha