A renúncia do presidente Michel Temer é, segundo especialistas consultados por ZH, a melhor saída para a crise institucional deflagrada pela delação premiada dos proprietários do frigorífico JBS, Joesley e Wesley Batista.
Um dos mais renomados cientistas políticos do país, Bolívar Lamounier defende que as autoridades judiciais precisam divulgar a gravação o mais breve possível.
– Se a participação do presidente Temer for, de fato, incriminadora, aí, sem dúvida, o melhor caminho será a renúncia, seguida pelo estrito cumprimento da Constituição pelo Congresso Nacional, ou seja, pela eleição indireta do sucessor.
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Segundo o diretor da Augurium Consultoria, esta "providência teria que ser rápida e sensata, angariando o máximo possível de consenso", pois um novo processo de impeachment "convulsionaria ainda mais o cenário político, levaria meses para ser processado e teria efeitos devastadores na economia".
– Buscar uma solução célere e ponderada é um dever que o Congresso Nacional e todos nós que temos uma parcela de responsabilidade nesse processo temos para com o país e, em particular, com a legião de desempregados deixada pelo governo anterior ao de Temer.
O ex-ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Gilson Dipp concorda que a renúncia é o melhor caminho, por ser uma saída "rápida e indolor" e que possibilitaria certa "normalidade de um governo transitório até as eleições de 2018".
– Um impeachment é um processo demorado e o prosseguimento do governo Temer seria, no mínimo, irrazoável. É um governo sem nenhuma condição de governabilidade, de credibilidade. O que diziam que ele tinha de positivo, a habilidade de negociar com o Congresso a aprovação de reformas, essa influência ele não tem mais. Vai haver uma debandada dos congressistas que o apoiavam e, consequentemente, não vai haver nenhuma votação.
No entanto, o jurista avalia que, como o atual Congresso não tem "moralmente" nenhuma legitimidade para escolher o sucessor do peemedebista, o ideal seria a aprovação de uma emenda constitucional possibilitando a realização de eleições diretas. Esse processe, conforme Dipp, é o "mais aproximado do que as instituições precisam e da legitimidade que o cidadão pode dar".
– As instituições vão ter que ter muito cuidado para que não haja o pior. Eu comparo a crise institucional de hoje, guardada as proporções, com a crise da ditadura militar. Institucionalmente, a situação é muito parecida e tão grave quanto. Portanto, tem que haver coerência das instituições e dos poderes, para que não se ponha a perder uma conquista que o Brasil vem tendo.
O ex-ministro, no entanto, considera difícil, mas não impossível que Temer renuncie:
– Ele vive de política, não importa que tipo de política. Se ele verificar que é impraticável a sua permanência, há possibilidade de renunciar, mas eu dúvido, porque ele vai espernear até o último minuto. Temer sabe que, se renunciar, eventuais delitos praticados irão para o foro da primeira instância. Por todas essas razões, só se ele notar que não tem a menor condição – e isso vai ser dito pelos seus aliados.