Em conversa com colaboradores do Grupo RBS, estudantes de Jornalismo e convidados nesta terça-feira (30/5), o editor-chefe digital do jornal argentino La Nación, Diego Japas, mostrou como um diário tradicional, de 147 anos, enfrenta os desafios de uma nova era nas comunicações. Sobretudo, de acordo com Japas, deve-se evitar os preconceitos e acostumar-se às novas ferramentas.
No começo da conversa cuja mediação foi feita pelo vice-presidente editorial do Grupo RBS, Marcelo Rech, o jornalista argentino contou que o La Nación recentemente mudou o modelo standard para o tabloide. Usou esse exemplo bem mais simples para mostrar a importância de adaptar-se.
– Quando nos falam em mudanças, a primeira coisa que fazemos é nos paralisarmos – disse ele.
No universo online, além das diferentes formas de contar histórias, o jornalista depara com a mudança nos tempos da informação. Não são mais as urgências do jornal impresso. A leitura é permanente.
– Vamos crescer na medida em que sairmos do perímetro ao qual estamos acostumados – afirmou.
Em termos de conteúdo, o La Nación aposta em uma linguagem mais próxima do público. Adotou projetos como o "emoções", que contraria uma antiga imagem do jornal portenho, de certa sisudez. Até mesmo uma seção destinada a questões conjugais foi criada pelo jornal.
– Rompemos um pouco a agenda informativa – resume ele. – Nos conectamos com as emoções.
Outra alternativa de conteúdo escolhida pelo jornal fundado em Buenos Aires por Bartolomé Mitre foi a de se aprofundar no "jornalismo de dados". O motivo que levou a isso foi uma dificuldade: diante do enfrentamento do governo anterior com os meios de comunicação, o La Nación criou seu próprio banco de dados públicos. A sofisticação chegou a tal ponto que todos os atos dos legisladores podem ser acompanhados pelo eleitor no jornal.
– Não havia informação pública, que era pouca ou tergiversada – relata.
Outra mudança para a qual o La Nación está atento: o uso dos celulares como plataforma. Japas diz que 65% das "visitas" ao jornal têm se dado por esse meio.
– O celular é onde estão as pessoas. Temos que ser cada vez mais agressivos nisso – recomenda, sublinhando atenções especiais que devem ser dadas à edição para essa plataforma, como os alertas e os serviços.
O editor conta que o trabalho em vídeo começou a se profissionalizar e, a partir disso, foi necessária outra mudança na tradicional redação portenha, onde foi criado um estúdio de TV e a emissora LN+, do jornal.
– Nos acostumamos a trabalhar com os ruídos e as luzes. Esse foi um desafio muito grande para quem estava acostumado a trabalhar apenas com o papel – relata.
Outro mecanismo do La Nación é o controle intenso da audiência para o balizamento do seu conteúdo:
– Estamos tornando a audiência algo essencial para o nosso trabalho.
Um desafio enfrentado pelo La Nación é o processo de integração da redação do jornal com as ferramentas do jornal digital e do impresso. Quanto a isso, o jornalista argentino elogiou o avanço do mesmo processo em ZH.
O La Nación ainda é um dos raros jornais de Buenos Aires que não adotou o sistema paywall (o conteúdo pago) e um novo plano estratégico foi apresentado há duas semanas prevendo a medida. Com isso, os leitores do La Nación passarão a pagar pelo conteúdo.
– Vamos trabalhar muito na qualidade dos nossos conteúdos – preocupa-se, em razão do natural desafio de fazer as pessoas valorizarem as informações ofertadas a ponto de pagar por elas. – Teremos que seguir aprendendo. Vivemos um processo de mudança – completa.
Marcelo Rech, sublinhando a importância do depoimento de Japas acerca dos avanços atingidos pelo diário portenho na era digital, comenta:
– O La Nación é um jornal de referência não só na Argentina, mas em todo o mundo. É um jornal criado em 1870, que hoje dá uma lição de inovação constante e faz, na minha opinião, o melhor jornalismo de dados da América Latina, se não um dos melhores do mundo.
DEPOIMENTOS
Leonardo Silveira, estudante de Jornalismo da Fadergs:
"Foi uma grande oportunidade para estudantes e pessoas que já estão no ramo."
Alfredo Fedrizzi, publicitário, consultor da Hyper Island, escola sueca de inovação em negócios:
"Achei muito inspirador que um jornal tão tradicional busque novas formas de comunicação."
Paulo de Argollo Mendes, presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers):
"Estamos preocupados em falar com as novas gerações, que estão focadas na comunicação digital."