A gestão João Doria (PSDB) iniciou a demolição de dois imóveis na Cracolândia, na região central da capital paulista, ainda com pessoas dentro. Segundo o Corpo de Bombeiros, duas pessoas tiveram ferimentos leves e foram socorridas na tarde desta terça-feira (23). Moradores, que estavam dormindo, afirmam que não foram avisados da demolição e protestaram com faixas dizendo: "Somos família, não lixo".
Os imóveis são localizados na Alameda Dino Bueno, onde ficava concentrado o "fluxo" antes da operação policial no domingo passado (21). O motivo da demolição, segundo a prefeitura, é desarticular o domínio do Primeiro Comando da Capital (PCC), que controla o tráfico na região.
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No horário em que a retroescavadeira derrubava os imóveis, o prefeito concedia entrevista no Largo Coração de Jesus, a poucos metros da Dino Bueno. Doria foi informado sobre um tumulto, mas disse não ter informações sobre o que havia acontecido. Ao fim da entrevista, informou que já tinha dado uma volta pela região e foi embora.
Feridos na Cracolândia entraram no prédio clandestinamente, diz Prefeitura
Em entrevista concedida na sede Prefeitura de São Paulo, no Viaduto do Chá, o secretário municipal de Serviços e Obras, Marcos Rodrigues Penido, chamou de "inusitado" o incidente que resultou em feridos. Segundo ele, um pensionato foi atingido acidentalmente pela retroescavadeira que iria derrubar o prédio vizinho, causando ferimentos em pessoas que estavam no seu interior.
Penido reitera, contudo, que os feridos teriam entrado no local "clandestinamente", pois as duas entradas principais estavam lacradas. De acordo com o secretário, elas adentraram o local por uma abertura localizada no muro do estacionamento vizinho. Ele afirma ter, inclusive, "vistoriado" o estacionamento junto com seu chefe de gabinete e o encarregado da retroescavadeira em dois momentos, por volta das 11h e das 12h, mas admite não ter olhado todo o terreno, no qual, ao fundo, havia a entrada.
– Perguntamos para moradores e todos diziam que o prédio estava vazio. As pessoas deveriam ter avisado que estavam lá – disse.
De acordo com a Prefeitura, demolições na área são permitidas por meio de um dispositivo jurídico oficializado no decreto nº 57.697, publicado no Diário Oficial Cidade de São Paulo de sábado (20). O texto desapropria e declara como de "utilidade pública" três áreas da Cracolândia, que, somadas, totalizam 14.115 mÔ. Segundo o secretário municipal de Justiça, Anderson Pomini, o decreto é um "instrumento jurídico" que pode ser aplicado em regiões em que está comprovado "iminente perigo", de modo que as áreas agora passam a servir aos "interesses do Estado", que agora detêm a posse.
A princípio, no início da tarde desta terça-feira (23), seria realizada a derrubada de dois imóveis, incluindo o da Alameda Bueno, no qual ocorreu o incidente, e outro no Largo Coração de Jesus, no qual seria mantida apenas a fachada, que é tombada. Segundo Pomini, ao menos dois quarteirões da Cracolândia serão completamente demolidos, com a indenização de seus proprietários em um prazo ainda indefinido.
O secretário de Serviços e Obras negou ter havido resistência de moradores em deixar a região, mas afirmou que novas medidas de segurança serão tomadas para evitar que o incidente desta terça-feira se repita.
– "De agora em diante, vamos triplicar os cuidados. Assim que a pá tocou no muro, ouviu-se os gritos e o serviço foi paralisado – reitera.
O prefeito João Doria não participou da coletiva de imprensa.
*Estadão Conteúdo e Agência Brasil