Delatores da Odebrecht afirmam, em acordo de delação premiada, que as principais negociações relacionadas a repasses de valores por caixa 2 para a deputada federal e ex-governadora do Rio Grande do Sul Yeda Crusius (PSDB) foram feitas pessoalmente com o ex-marido dela, Carlos Crusius. No total, Yeda recebeu R$ 1,75 milhão da Odebrecht entre os anos de 2006 e 2010 para conceder vantagens na recuperação fiscal da Braskem, um braço petroquímico da empreiteira.
Os então executivos do grupo Alexandrino Alencar, Benedicto Júnior e Valter Lana apontaram as irregularidades ao MPF em seus depoimentos e afirmaram que nenhum deles teve contato direto com a ex-governadora para tratar do assunto.
Segundo Alexandrino, os encontros com Carlos Crusius (no inquérito, está escrito Carlos Cruz) para acertar valores ocorriam em hotéis em Porto Alegre.
– (...) Na hora que ela se candidatou a governadora, nós tivemos conversa com ela e, pessoalmente, com o marido dela, marido que era ex-marido, mas ele era realmente o canal, o Carlos Crusius. Os candidatos não mostravam, na época de doação de campanha, a importância do setor petroquímico, e (dissemos) que se ela desse uma atenção especial, nós daríamos doações diferenciadas para ela – afirmou Alexandrino.
Leia mais:
VÍDEO: delações da Odebrecht citam políticos gaúchos; assista
Planilha de delator aponta pagamento de caixa 2 a 27 políticos do RS
Vídeos revelam detalhes da corrupção feita há décadas
De acordo com as investigações, a Braskem, que controla o Polo Petroquímico de Triunfo, teria condicionado apoio financeiro a Yeda à prorrogação das isenções fiscais do grupo. O pedido teria sido atendido em junho de 2008, quando Yeda já era governadora. Ela anunciou a prorrogação no ato em que a Braskem divulgou investimento de R$ 1 bilhão no Polo Petroquímico.
Em relação à forma como os pagamentos foram feitos, via caixa 2, Alexandrino foi enfático ao dizer que Yeda sabia que os repasses eram ilegais:
– Saber ela sabia, porque o Carlos Crusius era o homem designado por ela para isso. Constantemente nós tínhamos reuniões com ele, ao longo dos quatro anos de governo da governadora. A gente criou uma dinâmica de conversas, de ajudas futuras e de cobranças passadas.
Conforme relatos dos delatores, a propina a Yeda teria sido paga antecipadamente, com os R$ 600 mil repassados em 2006 – antes de ela ser eleita – e quitado em 2010.
De acordo com o executivo Valter Lana, a negociação para o repasse de 2010 foi feita com o então chefe de gabinete da Secretaria de Infraestrutura e Logística do Estado, Ivan Bertuol. O pagamento teria sido feito em duas parcelas, uma em agosto e outra em setembro daquele ano. A operacionalização dos repasses, coordenada pelo setor "de estruturação de negócios da empresa", ocorreu por meio de um doleiro chamado Tonico, afirmou Lana.
O executivo contou que, durante a campanha para a reeleição da ex-governadora, foi procurado por Bertuol, que lhe pedia apoio financeiro. Segundo o delator, o então secretário tinha a incumbência de levantar recursos para a campanha, mas os repasses não demandavam uma contrapartida do governo.
Durante os encontros, que ocorriam no escritório da empresa e na sala de Bertuol, Lana deixou claro que os pagamentos seriam feitos por caixa 2, em um esquema definido por Benedito Barbosa da Silva Junior, que comandava o Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht:
– (...) Eu falei com o Ivan e disse que essa foi a decisão da empresa (de pagar via caixa 2). Óbvio que eles não gostam, mas ele não se opôs a receber. (...) Mas essa ajuda da campanha não tem nada a ver com a obra (Barragens de Taquarembó, em Dom Pedrito, que a Odebrecht tinha na época no Rio Grande do Sul). Volto a dizer que o governo do Estado não teve nenhuma ação sobre esse empreendimento.
Também em delação premiada, Benedito confirmou que recebeu o pedido de Lana para o repasse dos valores, afirmou que nunca teve contato pessoal com Yeda Crusius, e que não tinha informações sobre contrapartidas do governo pelo financiamento da campanha. A ex-governadora irá responder a inquérito por corrupção ativa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
O que diz Yeda Crusius:
Zero Hora ligou quatro vezes para o celular da deputada federal nesta sexta-feira, mas as ligações não foram atendidas. À Rádio Gaúcha, na quarta-feira, a parlamentar afirmou:
- Para mim não passaram, e se disseram terão que mostrar para quem passaram. Eu não recebi. O que eu recebi legal é o menor entre os candidatos (ao governo do Estado). Eles vão ter que dizer para quem deram. Para mim não deram.
O que diz Carlos Crusius:
ZH tentou, mas não conseguiu contato com ele na manhã de sexta-feira.
O que diz Ivan Bertuol:
Por telefone, Bertuol falou para Zero Hora: "Não é verdade (que teria recebido dinheiro por caixa 2). Na época, em 2010, eu trabalhei no comitê da campanha na captação de recursos. Entre outras empresas, pedimos recursos para a Odebrecht, mas não de caixa 2. No comitê da candidata, não recebemos nenhum valor de caixa 2. Tínhamos uma estrutura organizada, de advogados, contadores e auditores, para fazer tudo dentro do regulamento eleitoral. (Me encontrei) com Valter Lana, assim como com muitos outros empresários, mas não lembro o valor que foi negociado. Está tudo declarado."