Números registrados por serviços de saúde do Estado apontam que uma pessoa morre cada 26 horas no Rio Grande do Sul vítima de acidente de trabalho. O balanço foi apresentado na manhã desta quinta-feira (27), na sede do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (TRT), em Porto Alegre. A iniciativa integra o programa Trabalho Seguro, desenvolvido pela Justiça do Trabalho em parceria com o Ministério Público do Trabalho.
O levantamento abrange o período entre 2013 e 2016. Somente no ano passado, foram registrados 44.145 atendimentos. Desse total, 311 pessoas morreram em algum tipo de acidente trabalho, o que resultou na média de uma morte a cada 26 horas. Os dados são do Centro Estadual de Vigilância e Saúde (CEVS), vinculado à Secretaria Estadual da Saúde. Os homens lideram os óbitos.
– Acordamos e sabemos que um trabalhador vai morrer hoje. Isso é muito grave – afirmou o desembargador do Trabalho, Raul Zoratto Sanvicente.
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Entre as vítimas fatais, 67% são do sexo masculino. As mulheres representam 33% da estatística. No entanto, elas são maioria entre os pacientes acometidos por doenças do trabalho. São 57%, frente 43% dos homens. A maior parte dos registros atinge pessoas na faixa etária entre 20 e 39 anos. De acordo com o procurador-chefe do Ministério Público do Trabalho no RS, Rogério Uzun Fleischmann, um comitê de óbitos será criado para tentar zerar estes números.
Outro dado que preocupa as autoridades é o aparecimento de crianças na lista. Cerca de 0,13% das vítimas tinha idade de até 13 anos, o que caracteriza trabalho infantil.
Entre os setores, o metalmecânico lidera o ranking, seguido do agropecuário, saúde e construção civil. A região urbana abrange 78% dos acidentes, enquanto a zona rural registra 14% (outros 8% não foram especificados).
Os números do levantamento apresentado nesta quinta-feira mostram um panorama mais alarmante do que o Anuário Estatístico apresentado pela Previdência Social. A explicação é que o estudo reúne apenas os casos ocorridos com trabalhadores de carteira assinada. O levantamento apresentou uma diminuição de 14% nas ocorrências de acidentes e doenças de trabalho entre 2014 e 2015. Contudo, para o auditor-fiscal do Trabalho, Luiz Alfredo Scienza, a redução não significa que a prevenção tenha aumentado. Para ele, a crise financeira faz com que as pessoas tenham medo de registrar os acidentes para não perder o emprego.
A falta de segurança para os trabalhadores também gera prejuízo para a Previdência Social. Em 2015, R$ 10, 2 bilhões foram pagos em benefícios às vítimas de acidentes e doenças do trabalho. A maior incidência de ações foi registrada no setor terceirizado, relacionado a questões de precariedade. Conforme o estudo, 449 trabalhadores terceirizados do setor elétrico morreram entre os anos de 2009 e 2015 no Brasil.